Avanço moderado marca ano de maturidade do setor de pet food
Indústria cresce abaixo do mercado de rações, mas reforça capacidade produtiva
O ano de 2025 marcou a maturidade da indústria brasileira de pet food. Ao longo dos 12 meses, o setor avançou, mas em um ritmo inferior ao esperado, especialmente quando comparado ao desempenho geral da indústria de rações. Ainda assim, o período foi caracterizado por fortes investimentos industriais e logísticos, expansão das exportações e reforço do protagonismo do Brasil na América do Sul.
“A pressão sobre custos, a desaceleração do consumo doméstico e a competição crescente entre marcas fizeram esse segmento priorizar o menor preço para fazer giro e recompor margens”, pondera Ariovaldo Zani, vice-presidente executivo do Sindirações.
O setor demonstrou capacidade de adaptação mesmo diante de custos elevados, desafios logísticos e mudanças no comportamento de consumo, sustentando uma estratégia de longo prazo baseada em eficiência operacional, ampliação de capacidade produtiva, inovação nutricional e fortalecimento da presença internacional.
Avanço abaixo do mercado de rações marca o ritmo de 2025
Os dados setoriais mostram que o segmento de pet food encerrou 2025 com crescimento abaixo do desempenho médio da indústria de rações, confirmando um cenário de avanço mais moderado. A produção de alimentos industrializados para cães e gatos seguiu em expansão, porém em velocidade menor do que a observada em anos anteriores.
A distribuição dos volumes permaneceu concentrada – 80% voltados a cães, 19% aos gatos e apenas 1% às demais espécies, que abrangem pássaros, peixes ornamentais, répteis e pequenos mamíferos.
Esse desempenho foi atribuído à combinação de pressão sobre custos de insumos, maior sensibilidade do consumidor ao preço final e um mercado cada vez mais competitivo, especialmente nas categorias de maior volume. Ainda assim, o consumo de ração industrializada segue apresentando potencial de crescimento, principalmente em regiões onde a penetração ainda é inferior à média nacional.
“Se houvesse uma adequação tributária, os preços do setor pet seriam reduzidos e a demanda ampliada, beneficiando milhões de famílias brasileiras”, aponta José Edson Galvão de França, presidente-executivo da Abempet e colunista do Panorama PetVet.
Rações para gatos lideram perspectivas de crescimento do setor
Entre os destaques do ano, o mercado de rações para gatos foi apontado como o principal motor de crescimento futuro do setor. Segundo um levantamento da PremieRpet, a expansão está diretamente ligada ao perfil urbano dos tutores, com rotinas mais dinâmicas e maior adesão a produtos industrializados.
“Em outros países, o mercado de alimentos para gatos já é maior, mas no Brasil, os cachorros sempre dominaram. Contudo, é bem provável que isso se equilibre no futuro, já que o gato vem ganhando cada vez mais espaço nas residências brasileiras”, analisa Fernando Jun Suzuki, diretor comercial da marca de pet food.
Segundo pesquisa do Instituto Pet Brasil (IPB), o número de felinos aumentou 5,4% em relação a 2022, passando de 29,2 milhões para 30,8 milhões de animais. Hoje, os gatos já representam 18,33% dos 168 milhões de pets existentes no país.
O avanço do segmento felino reforça uma tendência já observada pela indústria: maior demanda por produtos específicos, de maior valor agregado e alinhados à nutrição especializada, movimento que influencia diretamente as estratégias de portfólio das empresas.
Exportações crescem, apesar de entraves estruturais
Outro ponto relevante da retrospectiva de 2025 foi o crescimento das exportações brasileiras de produtos pet, mesmo em um cenário internacional desafiador. O desempenho reforçou a competitividade da indústria nacional e sua capacidade de atender diferentes mercados.
As rações e petiscos concentraram a maior parte das vendas externas, respondendo por 86% do total exportado, com faturamento próximo de US$ 500 milhões (R$ 2,8 bilhões).
Atualmente, o Brasil conta com aproximadamente 300 empresas exportadoras do setor, segundo dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Os principais destinos das exportações brasileiras incluem Uruguai, Emirados Árabes Unidos, Bolívia, Chile, Arábia Saudita e Filipinas, mercados que vêm ampliando a demanda por produtos nacionais.
Apesar do desempenho positivo, o setor ainda enfrenta entraves relevantes para ampliar sua presença global. A elevada carga tributária segue como um dos principais obstáculos. “O potencial de demanda é mais que o dobro na indústria, mas esbarramos na pesada tributação, já que o produto carrega mais de 50% de tributos. A redução da carga de impostos poderia permitir novos entrantes no mercado e imprimir maior competitividade na arena internacional”, afirma Ariovaldo Zani.
Além da tributação, custos logísticos elevados e exigências sanitárias continuam limitando o avanço do Brasil no comércio exterior. Assim, mesmo com crescimento consistente, o país mantém participação ainda restrita no mercado global, o que evidencia um espaço significativo para expansão no médio e longo prazo, caso os gargalos estruturais sejam endereçados.
Expansão industrial e logística sustenta visão de longo prazo
Mesmo com crescimento contido, 2025 foi marcado por movimentos de expansão e reorganização da capacidade produtiva e logística, sinalizando confiança de parte da indústria no futuro do mercado brasileiro, ao mesmo tempo em que ajustes estratégicos também se fizeram presentes.
Entre os principais movimentos observados ao longo do ano, destacou-se a intensificação dos investimentos industriais e logísticos em meio a um ritmo de crescimento mais moderado da demanda.
Um dos exemplos mais expressivos foi a ampliação da planta da Adimax em Mandirituba (PR), com um aporte de R$ 140 milhões que adicionou cerca de 7 mil toneladas mensais à capacidade produtiva da empresa, fortalecendo sua atuação nas regiões Sul e Sudeste e impulsionando a competitividade para mercados da América do Sul. Com essa expansão, a Adimax ultrapassou concorrentes e assumiu a liderança nacional em capacidade instalada de produção, ampliando seu footprint industrial e reforçando seu compromisso com a eficiência e sustentabilidade da operação.
Nesse mesmo contexto, a Mars Pet Nutrition investiu em um novo centro de distribuição em Extrema (MG), com cerca de R$ 30 milhões destinados à estruturação logística. Essa unidade não apenas reforça a malha de distribuição da companhia no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, como também incorpora sistemas avançados de rastreabilidade e gestão de cadeia de suprimentos, aumentando a agilidade e confiabilidade das entregas para marcas como Pedigree, Whiskas e Royal Canin.
Outro movimento relevante foi o aporte de R$ 45 milhões da Farmina em um centro de distribuição no Brasil, voltado para ampliar a produção local em mais de 150% e fortalecer a atuação da empresa como hub regional para a América Latina. A nova estrutura, integrada à fábrica da companhia, facilita a logística e permite maior capacidade de atendimento tanto ao mercado interno quanto às exportações.
Ao mesmo tempo em que esses investimentos avançaram, o setor também registrou movimentos de retração e racionalização. O da fábrica de nutrição animal da ADM Nutrição Animal no país evidenciou que o ambiente competitivo exige escala, eficiência e alinhamento às estratégias globais das companhias.
Já a Nestlé Purina consolidou um novo ciclo de crescimento no Brasil, reforçando sua produção nacional e aprofundando sua estratégia de longo prazo no país. O movimento incluiu investimentos em inovação, fortalecimento de portfólio e alinhamento às demandas por produtos de maior valor agregado, reafirmando a relevância do mercado brasileiro em sua operação global. O principal marco desse avanço foi a inauguração da unidade industrial de Vargeão (SC), a segunda fábrica da marca no país e o maior investimento já realizado pela Nestlé no segmento de pet food no Brasil, com aporte inicial de R$ 1,2 bilhão e projeção total de R$ 2,5 bilhões.
Esses movimentos indicam que, apesar de um cenário mais desafiador, o Brasil segue sendo visto como plataforma estratégica de produção e distribuição, ao mesmo tempo em que a indústria passa por um processo natural de ajustes, consolidação e busca por eficiência.
Brasil reforça liderança na América do Sul
Em 2025, o protagonismo do Brasil no mercado sul-americano de pet food ganhou ainda mais evidência. O país concentra as maiores empresas da região, lidera em volume produzido e mantém uma base industrial robusta, capaz de atender tanto o mercado interno quanto a demanda externa.
Esse posicionamento consolida o Brasil como referência regional, ao mesmo tempo em que amplia a responsabilidade do setor em sustentar padrões elevados de qualidade, inovação e competitividade.
O desempenho da indústria nacional vem sendo impulsionado por fatores estruturais, como a crescente humanização dos animais de estimação, o avanço da ciência nutricional, a incorporação de novas tecnologias na formulação de produtos e a atenção ampliada à qualidade e à sustentabilidade. Além disso, o setor é formado por empresas jovens e empreendedoras, que priorizam rigor em qualidade, segurança, bem-estar dos colaboradores e responsabilidade social.