
A IA no varejo entrou no vocabulário, virou tendência, manchete e até argumento de venda. Mas apesar de todo o barulho, a verdade é uma só. Enquanto todos querem usar inteligência artificial, quase ninguém sabe como. No mercado pet, essa realidade é ainda mais evidente. A maioria dos donos de loja sequer começou a testar o uso da tecnologia e, entre os que começaram, muitos seguem cometendo erros que mais atrapalham do que ajudam.
O primeiro deles é tratar o ChatGPT como se fosse o Google. É comum ver lojistas abrindo o chat e perguntando: “como vender mais?” ou “qual a melhor promoção para minha loja?”. A resposta, de maneira previsível, é genérica e pouco útil. Isso acontece porque a IA funciona melhor com contexto. Não se trata de um buscador de soluções prontas, e sim uma ferramenta de construção estratégica.
Em vez de um questionamento vago, um bom exemplo seria “minha loja tem baixo movimento às segundas-feiras. Me sugira três promoções de banho/tosa com foco em recorrência para aumentar o fluxo nesse dia”. Ao detalhar o problema, a IA tem condições reais de entregar soluções aplicáveis.
IA no varejo sem dados estruturados
Outro erro recorrente de aplicação da IA no varejo é a ausência de dados estruturados. Muitos lojistas ainda não contam com um cadastro de clientes minimamente organizado. Sem saber quem são seus melhores consumidores, quais serviços têm mais saída ou quem está há mais de 30 dias sem frequentar o PDV, a inteligência artificial fica limitada. Ela só pode trabalhar com o que você oferece.
Se a base está vazia ou bagunçada, o retorno será fraco. Agora, se o varejista identifica que tem 20 clientes inativos há mais de um mês, já é possível pedir à IA para “criar uma campanha de WhatsApp para recuperar clientes que não voltam há 30 dias, com foco nos serviços de banho e tosa”. O resultado passa a ser muito mais assertivo, porque parte de uma premissa concreta.
Muitos também tentam aplicar IA sem ter clareza do objetivo. Querem resultados, mas não definem metas. Desejam vender mais, mas não sabem se querem atrair novos clientes ou aumentar o tíquete médio dos que já compram. E quando falta clareza, qualquer resposta parece servir – o que, na prática, significa que nenhuma funciona de verdade.
Ter um objetivo claro é o que transforma uma pergunta em estratégia. É o que permite pedir, por exemplo, que a tecnologia “me ajude a montar um combo de serviços com alto valor percebido para aumentar o tíquete médio aos sábados, meu dia de maior movimento”. Essa definição torna a IA uma aliada real, e não apenas uma fonte de ideias vagas.
Há também um certo encantamento perigoso com a ideia de que a inteligência artificial fará tudo sozinha. Muitos profissionais acham que basta abrir o chat, ler uma sugestão… e pronto. Mas ler não é o mesmo que executar. A ferramenta oferece caminhos, mas quem precisa andar por eles é o lojista. Ela pode sugerir campanhas, mensagens, promoções, mas disparar, acompanhar, medir resultados e ajustar a estratégia continua a ser uma estratégia humana. A tecnologia acelera, mas não substitui.
E talvez o erro mais comum de todos seja esperar resultado sem investir tempo. IA não é mágica. É uma alavanca, um motor, mas que precisa de direção, combustível e manutenção. É preciso organizar os dados da loja, testar as ideias que a tecnologia oferece e ajustar com base no que funciona na prática. É esse ciclo de ação que transforma inteligência em resultado. A IA, aplicada com clareza, contexto e disciplina, tem o poder de transformar a forma como um pet shop se comunica, se posiciona e cresce.
No fim das contas, a inteligência artificial não veio para substituir a experiência de quem está no balcão todos os dias. Ela veio para potencializar. E quem souber fazer isso bem vai sair muito na frente.