Fusão polêmica e pressão financeira marcam varejo pet
O ano termina com as gigantes Petz e Cobasi unidas, em contraponto às incógnitas sobre o futuro dos pequenos pet shops
O ano de 2025 terminou com o varejo pet brasileiro em um momento de transição. Após um ciclo prolongado de expansão, o setor passou a conviver com um ritmo de crescimento mais lento e projeção de avanço de apenas 3,36% em relação a 2024, alcançando um faturamento estimado em cerca de R$ 77,8 bilhões. É o menor ritmo de expansão desde 2019, que reflete um ambiente econômico mais desafiador, com concorrência mais agressiva e consumo cauteloso por parte das famílias.
“Para isso precisamos de um ambiente tributário mais equilibrado para a evolução sustentável do setor”, pontua José Edson Galvão de França, presidente do Conselho Gestor da Abempet (Associação Brasileira das Empresas do Setor de Animais de Estimação).
Cade impõe restrições e fusão entre Petz e Cobasi reorganiza o varejo pet
A fusão entre Petz e Cobasi colocou o setor no centro das atenções do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que passou a analisar o mercado com maior rigor concorrencial. A aprovação da operação veio acompanhada de restrições e da exigência de desinvestimento de até 26 lojas no estado de São Paulo, a maioria localizada na capital, sinalizando a preocupação do órgão com possíveis efeitos de concentração excessiva no varejo físico e digital.
A reorganização provocada pela fusão entre as duas gigantes abriu um novo capítulo de disputa entre grandes players do varejo pet. A necessidade de venda de pontos comerciais transformou esses ativos em alvos estratégicos para outras redes, que viram na redistribuição das lojas uma oportunidade concreta de expansão territorial e ganho de escala em um mercado cada vez mais disputado.
A Petlove e PetCamp manifestaram interesse nos pontos ligados à operação, enxergando na redistribuição de lojas uma oportunidade de ampliar presença regional e acelerar crescimento.
Na mesma direção, a Popular Pet oficializou pedidos por ativos relacionados à fusão, reforçando que a consolidação não beneficiou apenas os líderes do mercado, mas também estimulou movimentos oportunistas de redes em expansão. “Nosso planejamento é nos tornarmos a segunda maior rede de pet shops do Brasil, atrás apenas da Petz–Cobasi. A aquisição acelera esse processo”, afirma Guilherme D’Angelo, CEO e fundador da rede.
Paralelamente, a Petland chamou atenção para os riscos que a fusão representa para os pequenos e médios varejistas, ao destacar que o aumento da concentração tende a pressionar ainda mais a concorrência em mercados locais, reduzir a diversidade de operadores e ampliar a desigualdade de condições comerciais.
Segundo a rede, a consolidação pode intensificar a perda de competitividade dos independentes, que já enfrentam margens estreitas e dificuldades de acesso a preços e prazos mais favoráveis junto à indústria.
Com isso, a reorganização elevou o nível de disputa entre os grandes players e reposicionou localização e escala como fatores centrais da estratégia no varejo pet, ao mesmo tempo em que reforçou as preocupações sobre a sustentabilidade do varejo em um cenário cada vez mais concentrado.
Inadimplência expõe fragilidade financeira no varejo pet
Enquanto os grandes grupos disputavam ativos e escala, o varejo de base enfrentou uma deterioração preocupante das condições financeiras. Ao longo de 2025, o setor acendeu um alerta para a alta da inadimplência entre pet shops, especialmente os de menor porte. O aumento dos atrasos nos pagamentos e o alongamento dos prazos comprometeram o fluxo de caixa não apenas das lojas, mas também das distribuidoras.
“Somos pressionados a alongar prazos com o varejo, mas não temos essa mesma flexibilidade junto à indústria. Isso compromete o caixa, trava investimentos e aumenta o risco financeiro, especialmente com os estoques altos”, afirma Diego Dahas, presidente da Associação Nacional dos Distribuidores de Produtos Pet (Andipet).
O problema evidenciou a fragilidade financeira de parte do varejo e a dependência de crédito informal em um ambiente de margens cada vez mais estreitas.
Margens comprimidas e pressão sobre os pequenos
A pressão sobre os pequenos pet shops foi intensificada pela combinação de custos operacionais elevados, guerra de preços e poder de negociação desigual frente às grandes redes. As baixas margens se tornaram um dos principais desafios do varejo independente, especialmente em categorias de alto giro e baixo valor agregado. Muitos lojistas passaram a operar no limite, com dificuldade de transformar volume de vendas em rentabilidade sustentável.
“Não é preciso ser uma mega rede para desequilibrar o jogo. Pet shops de médio porte já conseguem condições de compra melhores que pequenos estabelecimentos familiares”, afirma Marco Gioso, CEO da Vetcoaches e colunista no portal Panorama Pet&Vet.
Esse ambiente competitivo reforçou as diferenças estruturais entre grandes redes, capazes de diluir custos e negociar condições comerciais mais favoráveis, e pequenos estabelecimentos, mais vulneráveis às oscilações do mercado e à perda de competitividade em preço.
Supermercados avançam e ampliam a concorrência
Outro movimento relevante de 2025 foi o crescimento das vendas de produtos pet nos supermercados. O avanço desse canal refletiu mudanças no comportamento do consumidor, que passou a incorporar itens para cães e gatos às compras rotineiras. Embora não substituam o papel técnico e consultivo dos pet shops, os supermercados ampliaram a concorrência em categorias básicas, pressionando ainda mais o varejo especializado, majoritariamente os pequenos e médios estabelecimentos.
Varejo pet enfrenta maior concentração e pressão econômica
O varejo pet brasileiro se mostra mais concentrado, mais regulado e sob maior pressão econômica do que nos anos anteriores.
A fusão entre Petz e Cobasi simbolizou um novo estágio de maturidade do setor, ao mesmo tempo em que escancarou as assimetrias entre grandes redes e o varejo de base.
Em um cenário de crescimento limitado, margens comprimidas, inadimplência elevada e concorrência ampliada por novos canais, a sustentabilidade dos pequenos e médios pet shops tornou-se um dos principais desafios do mercado.
O ano deixou claro que o próximo ciclo do varejo pet será menos guiado pela expansão acelerada e mais condicionado à eficiência, à gestão financeira e à capacidade de adaptação em um ambiente cada vez mais competitivo e seletivo.