Disputa por lojas de Petz e Cobasi envolve Petlove e PetCamp
Cade exige a venda de 26 unidades e acirra a concorrência no setor pet
A fusão entre Petz e Cobasi, aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), criou outra disputa no varejo pet. Como condição imposta pelo órgão, as duas gigantes terão de vender 26 lojas no de São Paulo – cerca de 10% de seus pontos na região. E duas empresas correram para manifestar interesse imediato – Petlove e PetCamp.
Os movimentos ocorreram dias antes mesmo do julgamento, antecipando a disputa por unidades estrategicamente valiosas.
PetCamp sinaliza interesse imediato e reforça estratégia de expansão
A PetCamp, terceira maior rede de produtos pet do país, enviou uma carta às companhias já na sexta-feira (dia 5), afirmando estar pronta para iniciar diligência, negociar e formalizar documentos “imediatamente” para uma eventual operação. A empresa, fundada em 1985 em Campinas, vem acelerando a expansão desde 2023, com aquisições de lojas físicas e presença consolidada em pontos rentáveis.
Ao fim do terceiro trimestre, contava com 107 unidades distribuídas por 53 cidades paulistas e mais uma em Uberaba (MG). Só em setembro, comprou cinco lojas da Tudo de Bicho, em São José dos Campos, e agora soma 15 unidades no Vale do Paraíba.
Para 2025, projeta crescimento de 38% na receita com faturamento de cerca de R$ 600 milhões neste ano e opera com um centro de distribuição em Nova Odessa capaz de abastecer até 200 lojas.
Petlove disputa ativos e projeta faturar R$ 2,5 bi em 2025
A Petlove, por outro lado, atua como forte candidata natural por seu porte e predominância no digital. A empresa protocolou manifestação de interesse no Cade já na segunda-feira (8), antes mesmo de saber o tamanho final do desinvestimento. Argumentou ser a única rede com atuação nacional relevante no ambiente online e reconhecida estratégia omnicanal, além de ter faturamento quase cinco vezes superior ao das demais concorrentes físicas.
Fundada em 1999 por Márcio Waldman, a marca nasceu como clínica veterinária e tornou-se pioneira no e-commerce pet brasileiro. Atualmente possui 19 lojas em quatro estados e é controlada pela gestora Kamaroopin desde 2018.
O contexto da fusão intensificou a tensão entre os players. A Petlove foi crítica ao processo desde o início, afirmando que a junção entre Petz e Cobasi poderia comprometer a concorrência. Nos dias que antecederam a decisão, sugeriu ao Cade a venda de 105 lojas, quase quatro vezes mais que o determinado, além da retirada de uma das marcas e de um centro de distribuição. O movimento irritou profundamente os sócios da operação combinada, que viram na proposta o risco de um “no deal”. O órgão, porém, fixou um volume de venda bem menor que o defendido pela Petlove.
Em nota, a Petlove reforçou que se colocou como potencial compradora dos ativos, mas afirmou que, até o momento, não há qualquer negociação em curso com Petz e Cobasi. A empresa também disse que o Acordo em Controle de Concentração ainda não é público. O faturamento esperado pela companhia para 2025 é de R$ 2,5 bilhões, meta acima dos R$ 1,9 bilhão projetados anteriormente.
Corrida por lojas da fusão promete acirrar mercado pet
Nos bastidores, a disputa promete ser acirrada. A PetCamp é vista no mercado como uma concorrente sólida, com grande capacidade de execução no varejo físico, enquanto a Petlove aposta na força da operação digital e no reconhecimento de marca nacional. Ainda assim, especialistas avaliam que outros compradores podem surgir, já que se trata de um setor altamente pulverizado.
Pelo acordo, o Cade também precisará aprovar o comprador final, garantindo independência e viabilidade da operação. Depois disso, Petz e Cobasi terão caminho livre para concluir a fusão no início de janeiro. Ao Valor Econômico, Sergio Zimerman, presidente da Petz, comemorou o alivio com o fim do processo. “O que saiu [26 lojas vendidas] não é o que nós queríamos, nem o que a Petlove queria, mas foi adequado considerando que poderia ter sido feito um entendimento muito mais conservador sobre análise do mercado”, disse ele.
Com a união das duas marcas, o grupo passará a deter cerca de 11% de participação no mercado nacional em valor de vendas, consolidando-se como a maior força do varejo pet físico do país e acendendo a disputa pelo espaço deixado por 26 lojas que agora se tornam o prêmio mais cobiçado do setor.