
Iniciativa de caráter voluntário, a então ONG Cão Cidadão, dedicada a tornar mais leve a rotina de crianças com câncer e de idosos a partir de terapias com animais, transformou-se em uma franquia pet robusta. O empreendimento Cão Cidadão está espalhado por todo o país, com cerca de 70 adestradores franqueados. Já são mais de 100 mil famílias brasileiras visitadas, atendendo semanalmente mais de 1.500 pets.
À frente do projeto está o médico veterinário Alexandre Rossi, formado em zootecnia com especialização em comportamento animal. Com mais de 30 anos de experiência na área, no Brasil e no exterior, ele é autor do livro Adestramento Inteligente, no qual reuniu as técnicas usadas em seu campo de trabalho. “Eu já havia ajudado a adestrar girafas, cangurus, hipopótamos, elefantes e outros animais silvestres”, conta.
O sucesso de vendas do livro repercutiu em grande demanda por adestramento. Aliado à paixão por animais e pensando no bem-estar de todos, Rossi, também conhecido como Dr. Pet, optou por desmembrar suas atividades. Manteve a ação filantrópica e social em hospitais e casas de repouso como a Cão Terapeuta e montou, em 1998, a Cão Cidadão, com voluntários cada vez mais focados em melhorar o relacionamento entre pessoas e animais.
A metodologia criada por Rossi, baseada no reforço positivo, despertou tanta procura que ele se viu obrigado a encaminhar os interessados a outros adestradores. “Mas os clientes queriam usar o nosso método e então desenvolvi um sistema de franquia juntamente com Sergio Zimerman, CEO da Petz”, destaca. Rossi relata o suporte dado pelo executivo em aulas de administração uma vez por semana e ajuda para montar o plano de negócios.
Franquia Cão Cidadão foi incorporada pela Petz
A franquia Cão Cidadão foi lançada em 2002, junto com a inauguração da Petz Marginal, e o negócio acabou sendo comprado pelo empresário anos depois. “Fizemos uma projeção para licenciar 60 fraqueados. Na época, não imaginava que poderíamos chegar a tanto, mas ele tem uma visão de empreendedor”, destaca.
O rigor na seleção e treinamento dos franqueadores é um ponto crucial para Rossi. “Não basta gostar de animais. A pessoa deve ter aptidão, habilidade, acompanhar vários adestradores e instruir seu próprio animal. Temos que nos certificar também se ela acredita em nossos valores de bem-estar em relação aos animais”, pontua.
O adestrador deve ainda se conscientizar de sua responsabilidade ao entrar na casa das pessoas, pois vai cuidar de animais que, muitas vezes, são tratados como filhos. Ele ressalta que a trava para o crescimento do número de franqueados é que muitos candidatos não se encaixam no perfil desejado. O treinamento dura, em média, quatro meses. “Os pedidos não param de chegar, mas nossa avaliação é rigorosa para mantermos a qualidade e a satisfação do cliente”, complementa.
Convívio mais próximo de pet com tutores melhora relacionamento
Entre os novos tutores e entre aqueles que se mudam para lares com restrição de espaço, o convívio mais próximo, mesmo compulsório, com o pet faz com que se encantem com os próprios filhotes. Segundo Rossi, há uma mudança na qualidade do relacionamento entre os dois. Ao mesmo tempo, prossegue, isso representa um desafio pois acabam se confundindo em relação às reais necessidades do animal.
Ele cita um exemplo de um cão que terá aulas de adestramento às 6h, ainda com friagem da manhã. O cachorro, no entanto, já pode estar com calor àquela hora. “Ao chegarmos na casa da pessoa encontramos o pet demasiadamente agasalhado. Mas na verdade, detalhes simples como a boca aberta e a língua para fora, indicam que ele não sente frio. É uma questão de saber interpretar a sensação real do animal”, ensina.
Conforto e companhia na chegada do filhote
Outra situação em que os adestradores fazem o meio de campo com algumas dicas básicas ocorre nos primeiros dias do filhote em sua nova casa. Para alguns tutores, há o “mito” de que o pet deve, “de cara”, ficar em um lugar definitivo, dentro ou fora de casa. Rossi esclarece que essa medida tem potencial para causar um trauma no animal por toda a vida. “Ele foi bruscamente separado de sua família e pode associar esse isolamento social com sofrimento. Vale tanto para cachorros como para gatos”, esclarece.
Um erro muito frequente cometido por profissionais da mesma classe de Rossi é recomendar manter o animal em casa até que se complete os três meses do ciclo de vacinação. Esse período corresponde justamente à fase de socialização primária de gatos e cães, fundamental para a saúde psicológica dos filhotes. “Sem isso, eles tendem a ficar mais agressivos com crianças e outros animais e passam a temer fazer passeios”.
O adestramento em domicílio compreende atividades para educação, eliminação ou redução de problemas específicos – latidos em excesso, agressividade durante o passeio, mordidas indesejadas, síndrome da separação, xixi e cocô fora do lugar. A Cão Cidadão também oferece cursos online e presenciais para profissionais do mercado pet e tutores que desejam conhecer o comportamento do animal de estimação.
Rossi reconhece que o trabalho da Cão Cidadão chega a uma fração muito pequena do mundo pet, mas acredita que há mercado para crescer até 20 vezes mais. “Somos uma gota no oceano e nos esforçamos para que nossa mensagem sensibilize cada vez mais pessoas e que elas se comprometam com um treinamento sério e consistente, sem esperar resultados em curto prazo”, diz o pai dos doguinhos Estopinha e Barthô e da gata Miah.