A fusão entre Petz e Cobasi voltou a empacar. O parecer mais recente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aponta que a rede de pet shops resultante da operação teria mais de 50% de participação de mercado em diversas das 491 praças analisadas.
Esse nível de concentração é considerado crítico e supera os limites recomendados pelo órgão regulador, o que estimulou até reações setoriais contra a união das varejistas (ver mais abaixo). Os pontos de maior concentração estariam justamente nas regiões mais lucrativas para as duas companhias, segundo o documento.
Até a semana passada, a avaliação preliminar do Cade indicava que a fusão faria a nova empresa ter um market share em torno de 28%, percentual abaixo de 40% – índice que, em tese, justificaria uma intervenção. Com isso, a expectativa era de que o negócio fosse aprovado sem restrições. No entanto, na última segunda-feira, 26, o Cade recomendou uma análise mais aprofundada antes de dar o aval definitivo.
Fusão entre Petz e Cobasi provoca reação contundente de entidade
As possíveis implicações da fusão entre Petz e Cobasi levaram a uma reação contundente da Associação Nacional dos Distribuidores Pet (Andipet), que representa mais de 60 empresas em todo o território nacional. A entidade lançou um manifesto público sobre o tema e está mobilizando seus associados e profissionais do setor por meio de um abaixo-assinado, que reforça a necessidade de vigilância e diálogo em defesa da livre concorrência.
A Andipet alerta para os potenciais riscos que a operação representa à livre concorrência, à diversidade empresarial e ao equilíbrio entre os agentes do mercado pet. Também entende que esse movimento pode gerar uma concentração de mercado prejudicial a distribuidores regionais, clínicas veterinárias e pet shops independentes, que hoje compõem a base do mercado.
“Nos preocupa o desequilíbrio que uma concentração desse porte pode causar. O setor pet brasileiro é sustentado por milhares de pequenas e médias empresas que geram empregos, distribuem produtos com capilaridade e garantem um atendimento próximo e personalizado. Essa fusão pode colocar tudo isso em risco”, afirma o presidente Diego Câmara.
Além da redução do poder de negociação dos distribuidores e lojistas, a associação destaca que a fusão pode criar espaço para práticas comerciais predatórias, impactando diretamente a sustentabilidade dos pequenos negócios e diminuindo as opções disponíveis para os tutores de pets.
A entidade ainda reforça o papel do Cade na avaliação criteriosa dos impactos da operação e faz um apelo às indústrias para que mantenham políticas comerciais justas, que valorizem todos os elos da cadeia. “Defendemos um mercado saudável, competitivo e plural. É fundamental que decisões estratégicas do setor preservem o equilíbrio e o acesso justo às oportunidades. A concentração de poder pode asfixiar a inovação e enfraquecer a rede que dá sustentação real ao setor pet no Brasil”, complementa.
Processo de fusão entre Petz e Cobasi tem Petlove envolvida
A Petlove também havia manifestado preocupação com o negócio, tanto que obteve o aval para ingressar no processo como terceira interessada. A empresa argumenta que o acordo pode prejudicar a concorrência no setor, sobretudo entre players menores e marketplaces digitais.
Atualmente, a Petz e a Cobasi são líderes do varejo pet no Brasil. Juntas, operam 483 lojas em 23 estados e terão uma receita líquida combinada de R$ 6,9 bilhões. O anúncio da fusão foi feito ao mercado em agosto do ano passado.
Rede de pet shops prevê necessidade de adaptação das empresas
Na avaliação de Márcio Vieira Brasil, diretor de negócios da rede de pet shop Terra Zoo, a união entre Petz e Cobasi representa um processo natural de consolidação em um mercado bastante pulverizado. Porém, projeta uma pressão significativa sobre a concorrência, especialmente em relação a preços e escala operacional.
“Isso exigirá adaptação e estratégia das demais empresas do setor. No entanto, o mercado pet continua em expansão e oferecendo oportunidades para diferentes modelos de negócio”, avalia. Fundada em 1980, a rede mantém atualmente 23 lojas físicas no Maranhão e também no Pará, Piauí e Tocantins.