O retrato do setor pet no Brasil
Exportações em alta e produção nacional em queda revelam aspectos estruturais que precisamos enfrentar


O setor pet no Brasil vive um momento de aparentes contradições que merece nossa atenção e reflexão cuidadosa. Em 2024, alcançamos a marca histórica de US$ 580,58 milhões em exportações, o que representou um crescimento expressivo de 29% em relação ao ano anterior. Trata-se de um resultado que, à primeira vista, celebraríamos sem reservas.
Contudo, quando analisamos os dados de forma mais ampla, identificamos sinais preocupantes que exigem nossa análise estratégica. A América Latina consolidou-se como nosso principal mercado consumidor, com a Colômbia liderando as importações de produtos pet brasileiros, seguida por Uruguai, Bolívia e Chile.
Surpreendentemente, os Emirados Árabes Unidos também figuram entre os cinco principais destinos, demonstrando o reconhecimento internacional da qualidade de nossos produtos – além de um atestado da histórica parceria comercial entre essa região e o Brasil.
O segmento de pet food mantém sua posição dominante, representando 86,11% de nossas exportações totais, com aproximadamente US$ 500 milhões. Já o pet care responde por 11% do volume exportado. Entretanto, por trás desses números positivos, enfrentamos um cenário interno desafiador.
A produção nacional de pet food registrou queda de 0,6% em 2024, e nossas projeções para 2025 apontam para uma retração ainda mais acentuada. Caso se confirme, será o segundo ano consecutivo de queda produtiva, interrompendo um ciclo virtuoso de crescimento que perdurou de 2015 a 2022.
O que mais nos preocupa é o movimento simultâneo de crescimento das importações. Em 2024, importamos US$ 20 milhões em produtos pet, um salto de 63% comparado a 2023. Estados Unidos, Áustria e Tailândia respondem por 66% dessas operações, sinalizando uma possível perda de competitividade de nossa indústria nacional.
Setor pet no Brasil precisa enfrentar suas contradições
Este cenário aparentemente contraditório do setor pet no Brasil – exportações em alta e produção nacional em queda – revela aspectos estruturais que precisamos enfrentar com urgência. Enquanto conseguimos atender mercados externos exigentes, perdemos espaço internamente para produtos importados. Isso sugere questões relacionadas ao custo Brasil, tributação e competitividade que impactam diretamente nossa capacidade produtiva.
O faturamento setorial já sofreu retração, caindo de R$ 77 bilhões projetados em um primeiro momento para R$ 75 bilhões no ano passado, evidenciando que os desafios vão além dos números de produção. Ao não serem incluídos na redução de 60% prevista na reforma tributária, os produtos pet sustentam um custo que contribui para travar nossa competitividade.
Como representante de uma indústria que emprega milhares de brasileiros e atende milhões de tutores que consideram seus pets como membros da família, vejo a necessidade urgente de políticas públicas que fortaleçam nosso ambiente produtivo. Uma revisão da reforma tributária, incluindo o setor pet entre os beneficiados, seria fundamental para revertermos essa tendência preocupante.
O crescimento das exportações demonstra nossa capacidade técnica e qualidade produtiva. Agora, precisamos garantir que essa expertise se traduza em fortalecimento do mercado interno, mantendo empregos, inovação e o desenvolvimento de uma cadeia produtiva robusta que continue atendendo com excelência os brasileiros e seus companheiros de quatro patas.
Esse panorama exige ação coordenada entre indústria, governo e entidades setoriais, para garantirmos que o sucesso no mercado externo se reflita em prosperidade duradoura para toda a cadeia produtiva nacional.