Novos modelos familiares impulsionam consumo pet
Pesquisa inédita avalia impactos dessa mudança para o consumo em pet shops
A transformação do perfil familiar no Brasil vem redesenhando não apenas o modo de viver, mas também o consumo. Com menos filhos e mais animais de estimação, cresce o investimento em produtos, serviços e cuidados voltados aos companheiros de quatro patas, o que se confirma mais uma vez em pesquisa inédita sobre esse cenário.
O mais novo estudo foi desenvolvido no programa de pós-graduação em economia aplicada da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP). Segundo a autora, a economista Clécia Ivânia Rosa Satel, o Censo de 2022 do IBGE já indicava um expressivo aumento de casais sem filhos ou pessoas que optam por viver sozinhas.
“Nesse contexto, cães e gatos passam a ocupar um espaço antes reservados aos filhos, um movimento que mistura afeto, responsabilidade e novas dinâmicas sociais”, observa.
Consumo pet registra alta de 145% nos gastos mensais
Indicadores sobre o consumo pet revelam que o contingente médio de pessoas por domicilio caiu de 3,6, no início dos anos 2000, para 2,8. Paralelamente, estimativas da Abinpet e do Instituto Pet Brasil (IPB) sinalizam que o país já abriga cerca de 160 milhões de animais de estimação, o equivalente a 2,2 pets por residência.
Esse crescimento reflete diretamente nos hábitos de compras. O valor médio mensal gasto por lares com animais de estimação passou de R$ 8,31 (entre 2002 e 2003) para R$ 20,42 em 2017-2018, segundo dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF/IBGE), um aumento real de mais de 145%.
Entre os lares que efetivamente tiveram despesas com pets, a média mensal chega a R$ 67,47. “Já entre casais sem filhos, o gasto sobe para R$ 85,55, mostrando o peso afetivo e social que os animais assumem nas novas configurações familiares”, complementa.
Expansão do mercado impulsiona inovação e profissionalização
Além do aumento no valor investido, houve uma ampliação expressiva na variedade de produtos e serviços. No início dos anos 2000, quase todo o orçamento destinado aos pets era voltado para ração (71,7%) e saúde (24,5%). Já em 2017-2018, esses dois itens somavam 70,5%, abrindo espaço para novas categorias, como higiene, hospedagem, certificação de raças e planos de saúde veterinária.
“O setor pet conseguiu se reinventar para acompanhar a nova relação das famílias com os animais de estimação. Se antes a oferta se limitava basicamente a ração e alguns acessórios, hoje o leque de opções contempla alimentos diferenciados, planos de saúde veterinária, hotéis, serviços de estética, adestramento e até produtos de moda e lazer exclusivos para os pets”, afirma a economista.
Perfil dos tutores eleva consumo e preços
O estudo ainda identificou que gastos mais sofisticados, como planos de saúde, hospedagem e adestramento, são mais comuns entre famílias de maior poder aquisitivo. O nível de instrução também tem impacto. Nos lares em que a pessoa de referência possui mestrado, o gasto médio mensal com pets alcança R$ 88,41.
“Esses números reforçam que o setor não apenas percebeu o aumento da população de animais nos lares brasileiros, mas também compreendeu a mudança no perfil dos tutores. Além da maior relação afetiva com o animal, eles demonstram ter condições financeiras de investir nesse cuidado”, analisa.
A expansão do setor estimulou também a concorrência, com reflexo direto na precificação. “O aumento de empresas no segmento pressiona a oferta de valores mais competitivos e de condições diferenciadas para atrair clientes. Em alguns casos, já é possível observar alternativas de menor custo, como consultas populares, embalagens econômicas de ração ou serviços oferecidos em formatos mais flexíveis”, explica Clécia. Por outro lado, em nichos premium, a busca por produtos e experiências exclusivas permite a prática de preços mais elevados, impulsionada pela percepção de qualidade superior.