Mercado pet em consolidação no Brasil demandará ajustes na distribuição
Associação do setor defende modelo atual, mas reconhece tendência natural de evolução
O acelerado crescimento do mercado pet brasileiro, hoje com cerca de 100 mil lojas e 77 mil clínicas ou consultórios cadastrados, começa a criar uma situação que se anuncia problemática para o futuro próximo. Como o modelo de distribuição irá se ajustar a uma nova realidade, com PDVs pulverizados em todo o território nacional?
O Panorama PetVet ouviu fontes do mercado e especialistas que traçaram o provável cenário para equacionar a questão de maneira equilibrada. O presidente da Associação Nacional dos Distribuidores e Fornecedores de Produtos Veterinários e Petshops (Andipet), Diego Dahas avalia que o atual modelo é o mais adequado ao estágio de maturidade do setor, mas reconhece a necessidade de avanços.
Distribuidores regionais garantem capilaridade
Segundo Dahas, diferentemente dos Estados Unidos, onde poucas e grandes distribuidoras atendem um varejo concentrado em grandes redes, o mercado brasileiro é formado majoritariamente por pequenos e médios pet shops, que dependem de atendimento próximo, crédito acessível e suporte local. ‘’Os distribuidores regionais garantem capilaridade, eficiência logística e desenvolvimento do varejo independente, conectando marcas e produtos a todas as regiões do país’’, destaca.
A Andipet reconhece, porém, que há uma tendência natural de evolução do modelo, com maior integração tecnológica, fusões pontuais e ganhos de escala, movimento semelhante ao que ocorreu no setor farmacêutico humano. ‘’Ainda assim, essa transição deve ocorrer de forma gradual e responsável, preservando a pluralidade de canais e a competitividade que sustentam o equilíbrio do ecossistema pet’’, argumenta.
Concentração e desigualdade entre grandes redes e pequenos e médios pet shops
O consultor Marco Gioso, CEO da VetCoachs, coloca um ingrediente a mais em sua análise. Segundo ele, o setor pet brasileiro vive um momento de consolidação. Depois de anos de expansão acelerada, o mercado começa a se estabilizar. ‘’As grandes redes, como Cobasi e Petz, seguem ampliando sua participação. Juntas, somam entre 500 e 600 lojas e faturam cerca de R$ 7 bilhões, segundo estimativas do mercado’’, diz
Apesar do tamanho, cerca de 95% da receita dessas companhias ainda é oriunda da venda de produtos, e não de serviços como banho, tosa ou clínica. “Os pequenos lojistas estão cada vez mais pressionados. Compram ração e acessórios a preços mais altos no atacado, não conseguem repassar o preço ao consumidor e acabam sem margem para competir”, alerta.
Disparidade de escala dificulta acesso à distribuição de pequeno lojista
Nesse panorama, aumenta o sofrimento dos pet shops de menor porte com a concorrência desigual, os custos logísticos e as dificuldades de acesso ao atacado. ‘’A disparidade de escala faz com que o pequeno lojista dependa de distribuidores intermediários ou atacarejos para abastecer suas prateleiras. As fábricas e grandes marcas vendem direto para as redes. O PDV independente pede preço, mas não tem volume mínimo’’, pontua.
O distribuidor também convive com o custo-Brasil, que contempla estradas ruins, logística cara e alta carga tributária sobre os produtos pet. “Com dólar alto, insumos importados encarecem e o poder de compra do brasileiro diminui. O custo de transporte é altíssimo. Quem sofre mais? O pequeno lojista. Para ele, cada dez reais faz a diferença”, ressalta Gioso.
Consolidação levará pequenos pet shops a buscarem nichos
Para sobreviver, sugere Gioso, os pequenos pet shops precisam se reinventar. “A única chance é se unir ou se especializar. Se dez lojas de um bairro se juntarem para comprar ração em conjunto, conseguem preço melhor’’, observa. Outro caminho é oferecer produtos exclusivos, serviços personalizados e nichos como hotelaria ou clínica especializada.
Nos Estados Unidos, explica, é comum a existência de clínicas só para gatos, hotel só para cães ou loja focada em artigos e serviços de luxo. ‘’Aqui, o varejista quer agregar produto, banho e tosa, clínica e creche. O empresário precisa decidir o que quer ser. Somos um país de dimensões continentais e infraestrutura precária. Estamos 25 anos atrasados em relação ao mercado norte-americano”, compara.