Fusão entre Petz e Cobasi enfrenta onda de críticas
Mais de 200 concorrentes e fornecedores manifestam apreensão com desequilíbrios competitivos que podem resultar da operação
A fusão entre Petz e Cobasi voltou a gerar polêmica após nova rodada de análises do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Em uma análise finalizada neste mês, a maioria dos 218 concorrentes e fornecedores ouvidos pela entidade expressou preocupações com o impacto da operação e com o avanço de práticas que já dificultam a concorrência no setor.
Um questionário foi enviado pelo órgão a fabricantes, distribuidores e pet shops. Em resposta, boa parte desses agentes ressaltou que as duas redes já operam com vantagens significativas atualmente, criando entraves claros para a competição de pequenos e médios lojistas.
Segundo informações da IstoÉ Dinheiro, empresas de menor porte afirmam que as duas redes atuam mediante privilégios como descontos progressivos, frete subsidiado, contratos de exclusividade e verbas de marketing cooperado. Essas condições, segundo as empresas ouvidas, não estariam à disposição de pequenos lojistas.
Muitos fornecedores relatam que, devido a custos logísticos e exigências mínimas de pedido, se veem obrigados a priorizar vendas apenas para as grandes redes, tornando inviável atender pet shops de bairro.
Para algumas marcas, contratos incluem exigências de exclusividade onde fornecedores chegam a ser impedidos de vender para concorrentes das megastores, ou têm que garantir margem mínima para revenda por outras lojas, limitando drasticamente a liberdade de concorrência no setor.
Diante deste cenário, os ouvidos pelo Cade consideram que a fusão entre Petz e Cobasi pode ampliar ainda mais essa desigualdade competitiva do setor, colocando pequenas e médias empresas em risco e concentrando o mercado nas mãos de um “super-player”.
No momento, o Cade avalia os depoimentos e evidências apresentadas, com o processo ainda em aberto. A decisão final sobre a fusão permanece pendente e a pressão de concorrentes e fornecedores indica que o debate sobre competitividade e equilíbrio no mercado pet ainda está longe de se encerrar.
Fusão entre Petz e Cobasi chega à Câmara dos Deputados
O debate sobre os impactos concorrenciais da operação chegou ao Congresso. A deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ) criticou o parecer do Departamento de Estudos Econômicos (DEE) do Cade por, segundo ela, minimizar riscos concorrenciais e ignorar desigualdades estruturais entre megastores e pet shops de bairro. Para Talíria, o órgão cria “uma ilusão de competitividade que não existe na prática”, já que pequenos lojistas não conseguem negociar preços, ampliar portfólio ou oferecer a mesma experiência integrada das grandes redes.
A parlamentar também condenou a possibilidade de as empresas recuarem caso o Cade imponha “remédios estruturais”. “Não cabe às empresas chantagearem o órgão para evitar salvaguardas que protejam as famílias brasileiras”, afirma.
Talíria respalda sua opinião com base em estudos do economista e ex-presidente do Cade, Gesner Oliveira, segundo os quais a operação pode elevar preços ao consumidor. “Os resultados mostraram que, em alguns casos, a alta é tão expressiva que chega ao dobro do que seria um patamar limite considerado pelo órgão”, afirma Gesner, que também é sócio da GO Associados e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Outras movimentações contra a operação
A Petlove intensificou sua oposição ao acionar novamente o Cade, pedindo que a operação só seja aprovada se as duas redes venderem 105 das 162 lojas que possuem no estado de São Paulo, além de outros ativos essenciais.
A empresa argumenta que, sem esse desinvestimento amplo, a fusão criaria um “super-player” com poder de mercado dominante no varejo físico e digital, prejudicando a concorrência e ameaçando a sobrevivência de pet shops menores. Segundo a Petlove, a concentração resultante poderia limitar a pluralidade do setor, influenciar preços e desequilibrar toda a cadeia do mercado pet.
Já Associação Nacional dos Distribuidores e Fornecedores de Produtos Veterinários e Petshops (Andipet) também se posicionou contra a operação. Em comunicado enviado à imprensa, a entidade contesta um mercado concentrado que “coloca em risco a diversidade, os pequenos negócios e, principalmente, o bem-estar dos animais”.
Além disso, o Instituto Caramelo lançou o movimento Não ao Monopólio Pet, alegado que junção das empresas resultará em uma “nova era de abandonos em massa de cães e gatos no Brasil”, posição reforçada por Marcio Waldman, fundador da Petlove e conselheiro da ONG.