Estudo avalia perfil dos salários dos veterinários
Hoje, 215 mil profissionais estão cadastrados no Sistema CFMV/CRMVs
Neste 9 de setembro, Dia do Médico Veterinário, o Panorama PetVet traz dados completos e atualizados sobre perfil e salários dos veterinários no Brasil. Muito além do cuidado com pets, esses profissionais atuam no controle de zoonoses, contribuem para a saúde pública e desenvolvem vacinas, medicamentos e tecnologias voltadas para diferentes setores da profissão.
Atualmente, o salário médio do médico veterinário no país é de R$ 4.644,20 para uma jornada semanal de 39 horas. É o que informa levantamento do Portal Salário, atualizado em 5 de setembro, com base em dados do Caged referentes a 6.736 profissionais admitidos e desligados sob regime CLT nos últimos 12 meses.
A remuneração pode variar entre R$ 4.517,42 (piso) e R$ 9.775,11 (teto), considerando apenas o salário-base registrado em carteira. Valores adicionais, como bônus, comissões, horas extras e adicionais noturnos, não entram no cálculo.
Em entrevista, Sergio Lobato, médico veterinário e consultor de gestão técnica para estabelecimentos veterinários, abordou os desafios da profissão relacionados à remuneração e à progressão de carreira. Segundo ele, muitos profissionais ainda se veem apenas como “salvadores da vida animal”, sem reconhecer seu papel amplo na sociedade e nas diversas áreas de atuação da veterinária.
“Há um desconhecimento sobre a nossa função na sociedade, sobre as múltiplas áreas de atuação e sobre o fato de que a veterinária é, sim, uma profissão”, diz. Ele alerta que essa romantização excessiva da carreira afasta os médicos veterinários da visão empresarial, que deveria ser incorporada já durante a formação acadêmica.
O especialista pontua também que a grande maioria dos profissionais ainda não domina conceitos básicos de contabilidade, gestão de empresas, seguro civil ou aspectos legais de responsabilidade profissional. “O cenário é muito preocupante. A maior parte da classe não tem acesso a essas ferramentas de forma clara e prática.”
Salários de veterinários apresentam variações regionais
A remuneração depende de diversos fatores, como função exercida, porte da empresa, localização geográfica, nível de experiência e política interna de cargos e salários. As diferenças regionais, no entanto, chamam atenção. Enquanto na região Sul o salário médio chega a R$ 5.182, no Norte é de apenas R$ 3.496, uma diferença de 48,3%.
“O médico veterinário, por vezes, enfrenta a subvalorização dos serviços, com significativas disparidades salariais regionais e um retorno financeiro que nem sempre compensa o alto investimento na formação. Do lado das empresas, a pressão de custos e a concorrência acirrada limitam a capacidade de oferecer salários mais competitivos, em um mercado onde a percepção do valor do serviço profissional ainda precisa ser mais bem estabelecida”, reflete Marcio Mota, presidente da Associação Nacional de Médicos Veterinários (ANMV).
A meta da entidade é capacitar e valorizar a profissão em todas as suas vertentes, assegurando que o suporte e as oportunidades cheguem a todos. “Nos colocamos sempre à disposição para discutir abertamente com os médicos veterinários as particularidades de suas realidades regionais, buscando juntos as melhores soluções para os desafios e o desenvolvimento de nossa classe.”
Salário de médico veterinário por região do Brasil (em R$)

Profissional pode ganhar até quatro vezes mais dependendo do porte da empresa
Em média, um médico veterinário júnior, que tem até quatro anos de carreira, recebe R$ 4.992,06, o nível pleno, de quatro a seis anos de trajetória profissional, chega a R$ 6.695,76 e o sênior, que possui mais de seis anos de experiência, alcança R$ 8.668,84 mensais. A metodologia considera salários de profissionais admitidos e desligados em empresas de todo o Brasil nos últimos 12 meses.
O porte da empresa amplia ainda mais as diferenças. Um veterinário júnior em microempresa (até 19 colaboradores) recebe cerca de R$ 3.005,21, enquanto em uma grande companhia (acima de 500 funcionários) o salário médio é de R$ 6.764,22 — 125,1% a mais.
Entre os plenos, a disparidade cresce: R$ 3.889,10 em microempresas contra R$ 9.469,91 em grandes companhias (143,5% de diferença). Por fim, no nível sênior, a remuneração vai de R$ 4.949,76 a R$ 12.175,60, uma diferença de 146%.
| Porte da empresa | Júnior | Pleno | Sênior |
| Micro | 3.005,21 | 3.889,10 | 4.949,76 |
| Pequenas | 4.446,19 | 5.753,90 | 7.323,14 |
| Médias | 5.752,60 | 7.670,13 | 10.226,84 |
| Grandes | 6.764,22 | 9.469,91 | 12.175,60 |
Perfil, gênero e escolaridade
O perfil mais recorrente do médico veterinário no Brasil é o de uma mulher de 26 anos, formada em medicina veterinária, atuando 44 horas semanais em empresas de atividades veterinárias.
Dados do Sistema CFMV/CRMVs indicam que há 215 mil médicos veterinários em atividade no país, profissionais que se dividem entre consultórios, laboratórios, indústrias, serviços de inspeção, universidades, órgãos públicos, fazendas e tantas outras áreas.
Quantidade de mulheres e homens na veterinária

A pesquisa mostra ainda uma relação entre o grau de instrução do funcionário e o salário base de médico veterinário. Entre os 5.160 profissionais com ensino superior completo, o salário base é de R$ 4.686,44. Aqueles com pós-graduação (372) recebem, em média, salário base de R$ 6.026,37; mestres (124) ganham salário base de R$ 6.591,02; e doutores (57) têm salário base médio de R$ 6.156,49.
Não existe uma fórmula única para contratar e reter profissionais cada vez mais qualificados. De maneira geral, avalia Lobato, fatores como boa remuneração, investimento na formação profissional, ambiente de trabalho seguro e uma cultura baseada em respeito e ética fazem a diferença. Os profissionais também precisam estar alinhados, compreendendo que essas oportunidades correspondem às suas necessidades e expectativas em relação à formação e ao exercício da profissão. “Se for possível alinhar todos esses aspectos, o resultado é ideal.”
Para Mota, a falta de planos de carreira estruturados é um entrave para o desenvolvimento e ascensão, especialmente em pequenas e médias organizações. A dificuldade de acesso a especializações de alto custo e a carência de habilidades de gestão contribuem para a estagnação de muitos profissionais. Quanto às empresas, o desafio reside em reter talentos e investir continuamente na capacitação, garantindo que seus profissionais tenham oportunidades de crescimento e se mantenham atualizados em um setor em constante evolução.
“O grande desafio está na imensa disparidade entre regiões, mas creio que devemos tentar achar esse equilíbrio entre valorização x custos x contratação. Acredito que um diálogo profundo e sério é o caminho”, finaliza o presidente da ANMV.
Radiografia precisa e atualizada da realidade do setor
A Associação Brasileira de Hospitais Veterinários (ABHV) está conduzindo o primeiro censo demográfico de serviços veterinários no Brasil. Intitulado Sistema de Indicadores Veterinários (SIV), o levantamento é nacional e vai reunir informações sobre hospitais, clínicas e centros diagnósticos. A meta é alcançar pelo menos 500 estabelecimentos em todo o país.
“Esse movimento é fundamental não apenas para que os gestores tenham clareza estratégica, mas também para que possamos dialogar com governos, investidores, indústria e sociedade, tendo a força de dados concretos”, diz Gustavo Gonçalves, diretor de relações internacionais da ABHV.
O formulário já está disponível online e ficará aberto por 60 dias para participação de clínicas, hospitais e centros diagnósticos. A pesquisa abrange o período de agosto de 2024 a agosto de 2025 e será conduzida de forma totalmente sigilosa, em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Para acessar e responder ao questionário, clique aqui.