A cannabis na veterinária vem registrando avanços positivos, mas não está pavimentada no país devido à necessidade de ajustes regulatórios. O tema estimula, inclusive, a realização de uma sessão exclusiva em um congresso no mês de junho.
O WNTC – We Need to Talk About Cannabis será parte da programação da FCE Pharma e acontecerá em 13 de junho no SP Expo, na capital paulista. Uma das palestras será dedicada ao uso da cannabis medicinal para pets.
Para a cientista Greyce Balthazar Lousana, palestrante do WNTC, bióloga, médica veterinária, fundadora e presidente da Sociedade Brasileira de Profissionais em Pesquisa Clínica (SBPPC), a exposição sobre o tema pode garantir avanços significativos para acelerar o processo de regulamentação do uso da cannabis medicinal para animais no Brasil.
“No mundo já há um movimento na prescrição de óleo de canabidiol no tratamento de doenças em cães e até equinos”, explica. “A tendência é que exista investimento em pesquisa e desenvolvimento, principal base para a criação de medicações altamente eficazes”, completa.
Hoje são cerca de 149,6 milhões de animais de estimação em todo o País, segundo o censo do Instituto Pet Brasil de 2021. O Brasil é o terceiro no ranking mundial. “Os canabinóides podem ser mais eficazes e menos tóxicos do que muitos anti-inflamatórios não esteroides, o que já nos faz pensar em confortar animais em sofrimento”, afirma Greyce.
O CBD é encontrado nas plantas de cannabis e, diferente do THC – outra molécula canabinóide da planta, não possui princípio psicoativo. Em humanos, o CBD é usado para tratar ansiedade, dor e problemas de sono. Greyce afirma que há evidências cada vez mais robustas de que o composto pode ajudar cães com dor de osteoartrite, distúrbios convulsivos e problemas de pele como dermatite atópica.
Cannabis na veterinária e possibilidades de uso
O uso da substância em cães, por exemplo, é limitado pelo pequeno número de animais ou metodologias usadas, os resultados devem ser interpretados com cuidado e mais pesquisas são necessárias. Para Greyce, a grande vantagem do uso do CBD é que a substância tem a comercialização autorizada no país, o que pode facilitar a introdução da cannabis na medicina veterinária – pelo menos como uma alternativa interessante ou complementar à medicina convencional.
Além do tema de cannabis para uso animal, o congresso WNTC discutirá com pesquisadores e stakeholders a importância da regulamentação do uso da substância em outras esferas, como aplicação em Life Science, incluindo etapas de produção, padronização de produtos, análise do mercado geral de cannabis, bem como dosagem e importância da pesquisa clínica em todas as esferas.
Cannabis na veterinária pode gerar R$ 1,45 bilhão
Os produtos à base de cannabis para pets têm potencial de movimentar R$ 1,45 bilhão no mercado brasileiro em um cenário de alta adesão do tratamento. Caso fosse regulamentado, após quatro anos, R$ 190,5 milhões desse valor seriam destinados a impostos.
Os dados fazem parte do estudo Cannabis no mercado Pet, realizado pela Kaya Mind, empresa especializada em dados e inteligência de mercado no segmento canábico.
Em um cenário de média adesão, a startup projeta que essa indústria movimentaria R$ 967,67 milhões no país, com R$ 126,9 milhões em arrecadação de impostos. Já num cenário de baixa aceitação, seriam R$ 483,83 milhões e R$ 63 milhões arrecadados para o governo. O uso regular de cannabis medicinal beneficiaria em torno de 555 mil pets.
“Além da previsão de movimentação em várias perspectivas, podemos entender os impostos arrecadados por meio desses valores e como estes poderiam ser revertidos. Por exemplo, no mercado pet, nada mais justo do que ajudar políticas relacionadas à causa animal”, comenta Maria Eugenia Riscala, cofundadora e CEO da Kaya Mind.
Retorno estimado da cannabis na veterinária
Segundo as projeções da Kaya Mind, com uma arrecadação de R$ 190,5 milhões em impostos, em quatro anos seria possível:
- Manter cerca de 39 mil animais distribuídos por 496 ONGs, gastando cerca de R$ 8 mil por mês com os cuidados de 80 bichinhos
- Arcar com custos mensais de aproximadamente seis hospitais veterinários públicos, sendo que cada um realizaria, em média, 4.500 atendimentos por mês
- Construir e comprar equipamentos para 34 unidades de clínicas veterinárias. O custo para cada uma seria de R$ 5,5 milhões.
WNTC: 13 de junho de 2023, dentro da FCE Pharma, no São Paulo Expo Horário: 11h às 18h
Local: Rodovia dos Imigrantes, 1,5 km – Vila Água Funda, São Paulo – SP
Para participar, basta acessar o link: https://www.weneedtotalkaboutcannabis.com.br/