Pet shops da África do Sul atraem investidores internacionais

O mercado de pet shops da África do Sul pode ser um bom espelho para as empresas brasileiras do setor. Duas redes locais de pequeno porte pegaram carona no rápido aumento do volume de animais de estimação, iniciaram um processo de expansão orgânica e despertaram olhares de investidores do Exterior.

Na quarta reportagem da série que destaca as principais varejistas do mundo, o Panorama PetVet conta as trajetórias dos dois líderes do mercado pet sul-africano. Embora adotem estratégias distintas, Absolute Pets e Petshop Science apostam nas excelentes perspectivas de incremento da demanda.

Segundo projeções divulgadas pelo Business Insider a partir da análise de consultorias como a Euromonitor, o mercado pet do país vale em torno de R$ 377 milhões. Mas a expectativa é que cresça quase oito vezes e atinja R$ 2,9 bilhões até 2026, motivada por novos aportes nessas duas empresas.

Rede de pet shops da África do Sul atrai grupo da Oceania

A Absolute Pets iniciou operações em 2005, quando o varejo especializado ainda era raridade e restrito a lojas de bairro. E esse cenário se sustentou por mais tempo, tanto que em 2013 a rede mantinha somente seis PDVs. Mas com o vigoroso crescimento econômico da África do Sul nos meados da década passada, impulsionado por fatores como a Copa do Mundo de 2010, a empresa enxergou o momento para ampliar capilaridade e em fevereiro de 2020 chegava a 85 PDVs, saindo dos limites da Região Metropolitana da Cidade do Cabo.

O boom de novos tutores na pandemia deu ainda mais visibilidade para as operações dos pet shops do grupo, que apresentava serviços diferenciados como o spa para cães e gatos. Os colaboradores dedicados a essa área, chamados Pet Spa Stylists, são tosadores certificados para a realização de banhos, cortes especiais, limpeza auditiva e ocular. A cada reserva, acumulam-se pontos e, na 10ª sessão, o tratamento é gratuito.

Parcerias com profissionais de veterinária e seguradoras viabilizam a oferta de seis opções de planos de saúde. Em 2021, o fundo sul-africano de private equity Sanlam mirou a entrada em novos segmentos e assumiu o controle acionário da Absolute Pets. O investimento deu mais escala ao negócio, que hoje já soma 150 lojas e ainda um e-commerce. Até 2026, a previsão é abrir mais 100 unidades.

Foi em 2023, porém, que aconteceu o grande salto por meio da Woolworths Group. Maior holding da Austrália em faturamento e dona da principal rede de supermercados da Oceania, com cerca de 1 mil PDVs e presença também na Nova Zelândia, encontrou na Absolute Pets um dos canais para acelerar sua internacionalização. A proposta de compra de 93,45% das ações foi chancelada pelas autoridades antitruste da África do Sul em abril deste ano. Levar a operação dos pet shops para outros países é uma das metas da nova controladora.

Enquanto líder avançava, surgia uma concorrente

O advento do mercado e os movimentos da líder do setor despertaram atenção da Shoprite Holdings, grupo de varejo que administra mais de 3,5 mil supermercados em dez países da África, entre os quais Angola, Madagascar e Namíbia. Com sede na Cidade do Cabo, a companhia decidiu estrear no segmento abrindo a loja independente Petshop Science em 2021. Rapidamente ergueu 87 lojas na África do Sul, mas em 2023 mudou o planejamento de expansão ao priorizar o sistema de franquias e as vendas online.

O Go Fetch! integra aplicativo e delivery a um raio de 5 km de cada unidade. A plataforma de comércio eletrônico reúne mais de 2 mil produtos. A conveniência vai além do mix, já que os tutores podem criar perfis detalhados para seus pets e agendar a entrega de seus pedidos no horário desejado.  De posse dessas informações, o e-commerce faz recomendações personalizadas de compra. O objetivo em médio prazo é estender essa operação para todos os mercados operados pela Shoprite.

Outros números confirmam potencial do varejo pet africano

Atualmente, a África do Sul concentra 21,7 milhões de pets e 45% dos adultos têm pelo menos um animal de estimação. O percentual ainda é distante dos 61% registrados no Brasil. Porém, o volume médio de gastos por pet supera R$ 1 mil por mês, o que aproxima o mercado africano do patamar de nações como a Alemanha e o coloca à frente de Rússia, China, Itália e do nosso próprio país – onde a despesa beira R$ 430. Esses indicadores vêm aumentando a cobiça de investidores, atentos a um setor em franco crescimento.