Leste Europeu se consolida como polo de investimentos no setor de pet food
Região atrai grandes players e novos projetos na indústria
por Juliana de Caprio em
e atualizado em
O Leste Europeu vem se firmando como um dos destinos mais promissores para investimentos no setor de pet food, mesmo em meio ao cenário de instabilidade econômica agravado pelo conflito entre Rússia e Ucrânia. O movimento de aquisições e expansão de capacidade produtiva indica que a região se tornou estratégica para a indústria global de alimentos para animais de estimação.
Segundo Nandini Roy Choudhury, sócia sênior da Future Market Insights, players estrangeiros enxergam o Leste Europeu como uma base-chave de produção. Um dos exemplos mais recentes é a aquisição da fabricante polonesa Pupil Foods pelo grupo chinês WH Group, maior processador de carne suína do mundo, que ocorreu em julho de 2025. O grupo descreveu o negócio como um passo essencial para a diversificação do portfólio e o fortalecimento da presença no mercado europeu de pet food em rápido crescimento.
Gigantes internacionais ampliam capacidade
A Hungria é um dos destaques quando o assunto é destino estratégico para alimentos para animais de companhia. A Nestlé Purina investiu 141 milhões de euros (cerca de R$ 896 milhões) em 2024 para expandir sua unidade em Bük, próxima à fronteira com a Áustria. O aporte elevou a capacidade da planta para quase 500 mil toneladas anuais, com grande parte da produção destinada à Europa Ocidental.
Na Romênia, a United Petfood, produtora belga de marcas próprias (private label), anunciou este ano a construção de uma segunda fábrica na cidade de Răcari, com um investimento de 35 milhões de euros (R$ 222 mi). Já a ucraniana Kormotech iniciou a construção de uma fábrica de alimentos úmidos na Lituânia, orçada em 60 milhões de euros (R$ 381 mi) e com financiamento do Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BERD), prevendo expansões até 2028.
Para Péter Tamási, CEO da distribuidora PetPartners Hungary, o setor pet na região “está em constante movimento, impulsionado principalmente por aquisições e pelo desenvolvimento de novas capacidades”. Ele destaca que a United Petfood “está muito ativa na compra de novas instalações, ampliando fábricas na Polônia e na Romênia e desenvolvendo tecnologia na planta da Hungria, adquirida da Cargill”.
Players locais também ganham força
Não são apenas os grandes grupos que ampliam presença. Pequenos fabricantes locais também buscam espaço no mercado internacional. A polonesa Zew Natury se expande para exportação, enquanto a tcheca VAFO comprou a distribuidora polonesa AZAN para fortalecer sua presença regional.
Nos Bálcãs, a Akvatera (KIKA Group) constrói uma nova fábrica de alimentos úmidos de alta tecnologia. Outra empresa lituana, a Kauno Grudai, também está ampliando sua capacidade de produção. O setor financeiro acompanha de perto: em 2024, a CVC Capital Partners adquiriu a participação majoritária da húngara Partner in Pet Food, com o objetivo de acelerar o crescimento na Europa.
Região atrai investidores apesar dos desafios
Mesmo diante de altos custos de energia, agravados pela guerra na Ucrânia, e do aumento das despesas com mão de obra, o Leste Europeu mantém grande atratividade para investidores, avalia Choudhury. Entre os fatores de apelo estão o acesso ao mercado único europeu, custos operacionais mais baixos que na Europa Ocidental e a rápida expansão do segmento de marcas próprias, com grandes varejistas buscando fornecedores na região pela escala, qualidade e vantagens de custo.
O ambiente regulatório favorável também incentiva novos projetos. A Hungria, por exemplo, oferece incentivos vantajosos para grandes investimentos estrangeiros, como os que viabilizaram a expansão da Nestlé Purina.
Além disso, a forte indústria de aves e suínos da Polônia fornece abundantes subprodutos animais, facilitando a integração vertical da produção de pet food. A demanda local por produtos premium cresce à medida que a posse de pets e os gastos aumentam nos países da Europa Central e Oriental.
Para Tamási, o cenário de longo prazo é positivo: “Mesmo que haja uma desaceleração no momento, o setor pet ainda está em forte desenvolvimento nesses países. A menor cobertura calórica é uma oportunidade de crescimento, e a premiumização é o principal motor”, finaliza.