Grupo Petz Cobasi avança na unificação das operações
Nova companhia define diretoria, inicia integração cultural e projeta sinergias bilionárias após aval do Cade
A fusão entre Petz e Cobasi entra agora em sua fase mais decisiva. Após a aprovação da operação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), o recém-criado Grupo Petz Cobasi inicia oficialmente o processo de integração das duas varejistas, com definição da nova diretoria, estrutura de governança e metas claras de captura de sinergias.
“É hora de depor as armas e marchar como um time”, resume o CEO da companhia combinada, Paulo Nassar, em sua primeira entrevista ao Valor Econômico, desde o aval do órgão. Para ele, a fusão não se resume à soma de ativos, mas exige uma transformação profunda das duas organizações, tanto em processos quanto em cultura.
Como condição para a aprovação da fusão, o Cade determinou a venda de 26 lojas no estado de São Paulo, sendo dez na capital. Segundo Nassar, há pelo menos três varejistas interessadas nos ativos, o que indica um cenário de concorrência acirrada na região. O executivo evita revelar o nome do terceiro interessado, além de Petlove e Petcamp.
Grupo Petz Cobasi estrutura plano de integração de longo prazo
Nassar detalha que o planejamento da integração foi estruturado para contemplar desde o primeiro dia de operação conjunta até metas de longo prazo. Uma equipe dedicada, formada por 60 profissionais, metade de cada empresa, iniciou os trabalhos ainda em 2024, teve suas atividades interrompidas durante a análise do Cade e agora retoma o processo com apoio da consultoria McKinsey.
“Um software mapeou 3 mil atividades para determinar o que nós vamos fazer, como vamos fazer no dia 1, no dia 30, nos primeiros 100 dias, primeiros seis meses, e anualmente, o que precisamos capturar até o quinto ano, quando termina esse processo. Haverá atualização dos valores (de sinergia), mas acredito que deverá ficar de R$ 200 milhões a R$ 300 milhões”, afirma.
Grupo Petz Cobasi nasce com identidade própria
A empresa passa a se chamar oficialmente Grupo Petz Cobasi. O “closing” da operação está marcado para 2 de janeiro, data em que as duas redes passam a operar como uma única companhia. Já no dia 5, entra em vigor o novo código de negociação das ações na bolsa: Auau3, substituindo o antigo Petz3.
A mudança do ticker, segundo Nassar, simboliza a criação de uma identidade mais ampla e desvinculada de uma única marca.
Plano de integração mapeia milhares de atividades e projeta sinergias
Até o fim de janeiro, o grupo pretende realizar uma reunião com analistas para apresentar a nova diretoria executiva, a composição do conselho de administração e a atualização das sinergias esperadas. Está definido que as marcas Petz e Cobasi serão mantidas, integrando os planos de expansão orgânica.
A escolha dos executivos envolveu a avaliação de 27 nomes das duas companhias, com apoio da consultoria Korn Ferry. A decisão final foi conduzida por Nassar e compartilhada com Sergio Zimerman, fundador da Petz, que assumirá a presidência do conselho de administração. “Eu escolhi, pois a prerrogativa é minha, mas consultei o Sergio, que me deu muitos ‘inputs’, muitas opiniões, de como é que é o time dele, quem é quem, e quem eventualmente eu deveria considerar”, diz.
Sinergias de até R$ 300 milhões guiam plano de integração
Apesar do discurso de alinhamento, analistas de mercado alertam que o período de integração costuma ser turbulento. Em relatório recente, a XP destacou que fusões de grande porte frequentemente enfrentam dificuldades relacionadas a cultura, governança e formação de silos internos, desafios observados em outras operações relevantes do varejo.
“Esperamos que o ritmo de ganhos continue desafiado por um cenário competitivo mais acirrado, enquanto aprendizados de integrações passadas de fusões e aquisições mostram que geralmente é um período de transição conturbado”, escreveu Danniela Eiger, analista da XP.
A corretora mantém recomendação neutra para a ação, embora reconheça o potencial de captura de sinergias. Para Nassar, o risco é real, mas faz parte do processo. Ele afirma que o sucesso da integração dependerá da capacidade das equipes de abandonar antigas rivalidades e atuar de forma colaborativa.
“Claro que a gente vai tropeçar, vai errar, vai corrigir, levantar e segue a vida. É o entendimento dos dois times que até então eram duas empresas concorrentes, e no campo de batalha brigavam por clientes. Tem que ter um desarme disso e teremos”, comenta.
Integração do Grupo Petz Cobasi testa alinhamento entre sócios
No dia 5 de janeiro, o grupo realizará o primeiro grande evento de integração, reunindo os principais acionistas, executivos, diretores e gerentes das duas redes na sede da Cobasi. O encontro marca simbolicamente o início da nova fase.
Inicialmente, os escritórios administrativos permanecerão separados, mas há planos de unificação gradual no escritório da Cobasi, na zona oeste de São Paulo, onde já foi identificado espaço disponível. A movimentação deve contribuir para a redução de custos administrativos.
A composição do conselho de administração está praticamente definida, restando apenas ajustes finais. Não há acordo de voto em bloco, o que exigirá alinhamento entre os acionistas. Após a transação, os antigos acionistas da Petz deterão 52,6% do capital, enquanto os sócios da Cobasi ficarão com 47,4%.
Fontes próximas ao processo avaliam que o período adicional de análise pelo Cade contribuiu para amadurecer a relação entre os sócios. A presença de conselheiros experientes, como Cláudio Ely, ex-RD Saúde, é vista como um fator de apoio à governança.
Dimensão do novo grupo e restrições
Com base nos números acumulados até setembro de 2025, o Grupo Petz Cobasi nasce com R$ 5,78 bilhões em receita bruta, crescimento de 8,8% na comparação anual. No período, a Cobasi avançou cerca de 10%, enquanto a Petz cresceu 7,8%, refletindo ritmos distintos de expansão.
Em rentabilidade, a margem bruta da Petz alcança 39,2%, ante 45,2% da Cobasi, enquanto a margem Ebitda é de 7,1% na Petz e 10,1% na Cobasi. A diferença reflete modelos operacionais distintos e o maior peso do digital na Petz, fator que pressiona a rentabilidade no curto prazo, mas fortalece a estratégia multicanal do grupo no médio e longo prazo.
O grupo soma 518 lojas, sendo 264 da Petz e 254 da Cobasi, além de diferenças relevantes na eficiência operacional e no ritmo de crescimento das despesas.
Além da venda das lojas, o Cade impôs restrições comportamentais, como a proibição de abertura de novas unidades nas áreas desinvestidas por 24 meses e limitações em ações comerciais e digitais nessas regiões.
Entre as decisões operacionais já tomadas, está a manutenção de quatro centros de distribuição e a adoção do sistema Totvs Protheus como plataforma de gestão unificada, substituindo gradualmente o modelo utilizado pela Cobasi.
Rede aposta em serviços para sustentar crescimento após fusão
Para 2026, o grupo deve reduzir o ritmo de inaugurações de lojas físicas e concentrar esforços na integração e na expansão de serviços. “Acho que a área de serviços vai ser totalmente reestruturada”, diz Nassar.
A Cobasi seguirá avançando com a Petanjo, rede de franquias de estética e clínicas veterinárias presente em 150 lojas e com previsão de mais 30 franquias em 2026. Já a Petz deve fortalecer sua operação de hospitais veterinários da rede Seres.
Agora, com a estrutura definida e o plano de integração em andamento, o Grupo Petz Cobasi inicia sua trajetória como a maior operação do varejo pet do país, sob a expectativa de que execução e governança serão determinantes para o sucesso da união.