Exportações no setor pet atraem grandes e PMEs
Fabricantes apostam em mercado global aquecido e demanda crescente por produtos premium
O mercado pet brasileiro deve encerrar 2025 com faturamento projetado de R$ 77,2 bilhões, segundo estimativas da Abempet. Com a força doméstica consolidada, indústrias dos mais diferentes portes vêm mirando os olhares para a maior participação no comércio exterior.
Desde 2020, as exportações no setor tiveram incremento de 87%, impulsionadas principalmente por itens de nutrição, higiene, saúde animal e diagnósticos. As cifras recordes chegaram a US$ 580,6 milhões (R$ 3,2 bi). Para este ano, as perspectivas giram em torno de US$ 650 milhões (R$ 3,6 bi). No universo das pequenas e médias empresas, os números também impressionam. Entre janeiro e setembro, o volume comercializado por companhias apoiadas pelos projetos da ApexBrasil somou R$ 61,16 bilhões.
O avanço reflete um movimento claro. Vender para fora não é mais um campo restrito a grandes players, mas uma rota estratégica para empresas de todos os tamanhos elevarem faturamento, diluírem riscos e ganharem competitividade.
Exportações no mercado pet de 2020 a 2025
(em bilhões de US$)

O Brasil conta hoje com cerca de 300 empresas exportadoras, de acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Os principais importadores dos produtos brasileiros são Uruguai, Emirados Árabes, Bolívia, Chile, Arábia Saudita e Filipinas.
Rações e petiscos representaram 86% das exportações no mercado pet, somando quase US$ 500 milhões (R$ 2,8 bilhões). Em seguida, vêm os produtos de pet care, com US$ 67,6 milhões (R$ 383 milhões e 12%) exportados. Ingredientes, produtos veterinários e animais vivos totalizaram 2%.
Exportações de produtos pet por categoria
(em milhões de US$ e %)

Mercado pet brasileiro como hub continental de exportações
Com as dimensões do mercado pet brasileiro e a atenção redobrada ao Exterior, o país torna-se um potencial hub continental de exportações. Desde fevereiro deste ano, essa vem sendo a estratégia da britânica Dechra em sua filial baseada em Londrina (PR).
A farmacêutica fechou o ano fiscal, encerrado em 30 de junho de 2025, com faturamento de R$ 294 milhões na região, alta de 17,5% nas receitas e lucratividade 41% maior que a do período anterior. A integração do Brasil aos negócios continentais, inclusive ao México, permitiu importantes ganhos para a companhia e otimização de recursos. “Para 2026, as vendas externas devem ter incremento acima de 30%”, acrescenta André Paleari, diretorpara a América Latina.
A fabricante de pet food Farmina, de bandeira italiana e presente no país desde 2022, tem no Brasil a base de exportação para 14 mercados da América Central e do Sul. Essa região já responde por 30% das vendas. Segundo Marcelo Hara, diretor geral para a América Latina, um dos alvos definidos é a Argentina, onde o segmento super premium representa 30% do consumo de alimentos para pets.
“A América do Sul tem apresentado movimento de maior abertura ao comércio internacional”, analisa. Na região, a Farmina tem Colômbia, Chile e Uruguai, em respectiva ordem de importância, como os principais mercados exportadores. Atualmente, 46 distribuidores parceiros garantem o escoamento ao mercado externo.
Brasileiras em alta no Exterior
Companhias genuinamente brasileiras também colhem os frutos da aposta no Exterior. A Pet Society, com sede em Guarulhos (SP) e focada em higiene e estética animal, acelera sua expansão global após consolidar presença em 70 países.
Nos Estados Unidos, onde opera há dez anos, a fabricante de pet care constituiu uma rede de distribuição que alcança cerca de 10 mil pontos de venda, incluindo pet shops e clínicas veterinárias. No Japão, após oito anos atuando via distribuidor local, a Pet Society assumiu integralmente as operações – com escritórios e equipe própria em Tóquio e Osaka. O crescimento deve superar 50% este ano.
Os resultados respaldam o plano de criar centros de distribuição próprios no Exterior a partir de 2026. Inicialmente, os focos seriam a Europa, com operação montada em Hamburgo (Alemanha) ou Roterdã (Holanda); e a Ásia, com a Malásia como ponto central. “A meta é ter estoque local e garantir entrega em até dois dias para os clientes europeus e asiáticos, um salto logístico que reduz custos e aumenta competitividade”, explica o presidente executivo Luciano Fagliari.
A mineira Bioclin, referência em diagnósticos laboratoriais, passou a intensificar presença em feiras internacionais. Além da Medlab, realizada em fevereiro na cidade de Dubai (Emirados Árabes), a empresa acaba de regressar da Medica, ocorrida entre os dias 17 e 20 em Düsseldorf (Alemanha). Também promoveu missões na América Latina, com o apoio da Abimo e da ApexBrasil.
A exportação representa cerca de 8% do faturamento total. “O mercado latino-americano é o principal destino dos kits diagnósticos, dada a proximidade cultural e econômica”, pontua o gerente comercial Neimar Barbosa. O carro-chefe para o mercado internacional é o portfólio de testes rápidos imunológicos, adaptáveis para utilização em campo ou em clínicas com estrutura simplificada.
Curadoria integral para PMEs
A inserção do setor pet nacional no Exterior ganha fôlego por meio de iniciativas como a +Feiras. Além de assegurar apoio à estrutura básica de estandes, a ApexBrasil oferece suporte antes e durante os eventos e prepara as empresas com estudos de mercado e webinars, aumentando a chance de interações qualificadas com compradores e parceiros. Consultorias como a Commpazz fornecem apoio comercial e logístico a essa operação.
“Trata-se de uma plataforma contínua de qualificação, calendário de negócios e posicionamento setorial que encurta o caminho entre o produto brasileiro e as gôndolas internacionais”, reforça Paula Caminha Soares, coordenadora de agronegócio da agência de fomento.
Essas iniciativas somam-se ao Programa de Qualificação para Exportação (Peiex), que já apoiou 30 mil empresas desde sua criação, há 21 anos. Deste total, 20 mil são de micro e pequeno porte. “Elaboramos um diagnóstico que avalia o nível de maturidade das indústrias. Na sequência mapeamos os mercados com menos restrições e regulamentações, além de prospectar distribuidores locais. Se as empresas cumprirem seu dever de casa, em três meses contam com um plano de exportação delineado”, complementa.
Consultoria e Apex facilitam acesso a feiras
Representante oficial no Brasil da Associação Americana de Produtores de Produtos Pet (APPA), e com escritório em Orlando (EUA), a Commpazz faz o cadastro das empresas nos eventos. A consultoria, especializada em representação, distribuição e apoio a exposições em feiras, já permitiu que 70 clientes abrissem frentes de negócio no Exterior.
“Indústrias que participam tanto da Global Pet Expo como da Interzoo, respectivamente em Orlando e Nuremberg (Alemanha), conseguem baixar seus custos de logística. Isso porque os estandes são despachados de uma feira para outra, mesmo com o intervalo de datas dos eventos, ocorridos em março e agosto”, destaca o sócio-diretor Luiz Paulo Almeida.
Para a Interzoo, por exemplo, a parceria da Commpazz com a ApexBrasil e a Messe Düsseldorf garantirão um subsídio de até 90% dos custos de participação na feira. Na prática, cada expositor brasileiro arcará com apenas 363 euros (R$ 2.290) para ocupar um estande de 12 m² e divulgar suas atrações. A perspectiva é ter 50 representantes do setor nessa missão.