Pesquisa divulgada em maio pela Apas revela que a comercialização de produtos pet nos supermercados apresentou uma expansão de 6,6% no primeiro trimestre deste ano, enquanto o varejo alimentar teve alta de apenas 0,3% nos estabelecimentos de todo o estado de São Paulo.
Esse desempenho superior já vinha sendo observado desde o ano passado, com destaque para o segundo trimestre de 2024, quando as vendas da cesta pet no canal supermercadista cresceram 8,3%, frente a um aumento de apenas 1% no varejo de alimentos. Para o economista-chefe da Apas, Felipe Queiroz, os dados reforçam a presença cada vez mais significativa dos animais de estimação nos lares brasileiros.
Outra pesquisa, realizada por amostragem e divulgada pela associação, ouviu 1.086 consumidores em março deste ano sobre o comportamento de compra. Mais da metade dos entrevistados (54%) afirmou que adquire alimentos e outros produtos para cães e gatos nos supermercados. Por outro lado, 42% disseram ter deixado de fazer compras nesses estabelecimentos devido à falta de produtos pet nas gôndolas. Além disso, 27% relataram já ter evitado frequentar uma loja que não permite a entrada de animais de estimação.
“A importância dos pets para as famílias é muito significativa. Esses dados indicam mudanças estruturais em todo o país. À medida que as cidades se tornam mais verticalizadas e a densidade habitacional por quilômetro quadrado aumenta, cresce também a presença de animais de estimação”, observa Queiróz.
Ainda segundo ele, em regiões com maior verticalização, há uma tendência de aumento na presença de gatos. Já nas áreas com predominância de casas, os cães costumam ser mais presentes.
Lares brasileiros com ao menos 1 pet
Aumento da participação dos gatos
O estudo da APAS constatou um crescimento significativo na participação de produtos pets nos supermercados com foco em gatos. No primeiro trimestre do ano passado, as vendas de rações para felinos registraram um aumento de 28,7%. Já no mesmo período deste ano, o crescimento foi ainda maior – 30,8%.
A pesquisa também revelou que, em algumas regiões, os gatos já superam os cães em representatividade nas vendas de produtos pet. É o caso do norte do estado de São Paulo, onde as vendas de rações para gatos nos supermercados corresponderam a 71,6% do total de itens pet comercializados, enquanto os alimentos para cães representaram apenas 28,4%.
Procurada pela reportagem, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) informou, por meio da assessoria de imprensa, que a entidade não trabalha com o recorte de venda de produtos para pets em supermercados. Mas, embora a pesquisa da Apas comprove o crescimento do comércio de produtos pet nos supermercados do estado, os estabelecimentos ainda estão longe de serem o principal canal de vendas de itens para cães e gatos em todo país.
De acordo com dados da Abinpet, os pet shops pequenos e médios permanecem como quase metade de todo movimento do varejo. Até o final de 2024, movimentaram R$ 36,6 bilhões. Em segundo lugar estão as clínicas e hospitais veterinários, que representam cerca de 18% do faturamento (R$ 13,4 bilhões). Completando o pódio, as cadeias de megastores pet tem uma fatia de 9,3%, faturando R$ 7 bilhões.
Dentro do segmento de e-commerce, o varejo especializado também é o segmento que mais vende. Os pet shops virtuais formam 40,6% do faturamento, com R$ 2,3 bilhões, seguido pelas lojas virtuais das mega stores, com R$ 1,5 bilhão (26,8%) e pelas lojas virtuais de pequenos e médios pet shops, com R$ 1,2 bilhão (21,5%).
O presidente-executivo do Instituto Pet Brasil, Caio Villela, observa que a venda de produtos no varejo alimentar vem avançando à medida que o setor também mostra números de crescimento nos pet shops de bairro, grandes lojas ou e-commerce. Mas, segundo ele, esse cenário cria uma falsa sensação de crescimento pleno.
“Os custos de produção aumentaram, muito por conta do preço das commodities que são ingredientes do pet food. Vale lembrar que este é o produto mais vendido do nosso mercado”, diz. Além disso, ele cita política tributária desfavorável. “Metade do preço desse mesmo pet food são impostos. O cenário é preocupante, pois, para o poder público, o setor pet ainda não é considerado essencial no Brasil. Infelizmente, seguimos sendo tratados como um segmento supérfluo, o que nos deixou de fora de uma tributação mais justa na reforma tributária. Como reflexo, o setor já observa queda na produção de alimento para animais de estimação. Algo inédito em nossa história até então”, lamenta.