Cresce a atenção dos tutores aos preços de pet food
Mercado pet avança para 2026 sob pressão de custos, exigindo decisões mais racionais dos tutores
O cenário econômico global previsto para 2026 deve intensificar a sensibilidade dos tutores aos preços, mudando o ritmo do consumo no mercado pet. Diante de inflação persistente, aumento de custos produtivos e menor tolerância a reajustes, cresce a preocupação com o valor real entregue por alimentos e produtos para animais de estimação.
Ao mesmo tempo, tutores buscam manter a qualidade, mas passam a adotar decisões mais racionais, seletivas e influenciadas pelo desejo de segurança, familiaridade e conforto em meio à ansiedade financeira.
Resiliência impacta o mercado pet em 2026
Para Joel Gregoire, diretor associado de alimentos e bebidas da Mintel Canadá, e Melanie Zanona Bartelme, diretora associada da marca, a principal ideia que atravessa o consumo em 2026 é a resiliência.
Dados apontam que as preocupações dos consumidores com preços em alta, economia instável, mudanças políticas, clima e tensões globais variam entre 40% e 66% na América do Norte, caracterizando uma “policrise”. Esse estado emocional afeta diretamente a forma como as pessoas compram, levando-as a priorizar produtos que garantem estabilidade, familiaridade e sensação de controle.
A Innova Market Insights compara o momento atual ao clima vivido em 2008, destacando que as pessoas estão mais estressadas e buscam alimentos, tanto humanos como pet, capazes de oferecer conforto, valor e acessibilidade. O levantamento destaca que bons preços e percepção de benefício estarão no centro das decisões em 2026, mesmo para categorias tradicionalmente premium.
Preços altos freiam a premiumização no mercado pet
No mercado pet, a Euromonitor alerta que a paciência dos tutores diante das altas consecutivas de preços está se esgotando. O setor, conhecido por sua resiliência em crises anteriores, encontra agora consumidores mais cautelosos, dispostos a rever hábitos e até migrar para opções mais acessíveis quando necessário.
Durante o Petfood Forum Asia 2025, dados da consultoria mostraram que as vendas de produtos premium desaceleraram inclusive em regiões de forte expansão, como a Ásia-Pacífico. Embora muitos tutores ainda afirmem preferir itens de maior qualidade, há uma clara redução no volume comprado, o que limita o avanço da premiumização. “A busca por produtos premium tem como consequência a redução do volume que pode ser comercializado a um preço mais alto”, destacou Sahiba Puri, da Euromonitor, reforçando que preços mais altos já não encontram o mesmo espaço de anos anteriores.
Nos Estados Unidos, uma pesquisa da Packaged Facts evidencia essa mudança. Cerca de 68% dos tutores estão preocupados com o aumento dos preços do pet food, 42% enfrentaram dificuldades com os custos no ano anterior e entre 14% e 30% trocaram de produto por causa da inflação, com taxas mais altas entre consumidores de menor renda, mas em crescimento também entre as faixas intermediárias.
Nostalgia ganha espaço entre consumidores em 2026
Além da busca por valor, cresce a tendência de recorrer à nostalgia como forma de aliviar a ansiedade. A Mintel chama esse movimento de “rejuvenescimento retrô”, enquanto a Innova o define como “crafting tradition”. Em períodos instáveis, produtos que remetem ao passado, às tradições e à sensação de lar geram conforto emocional.
As duas empresas de pesquisa focaram especialmente (e curiosamente) nos consumidores da geração millenial que são os principais impulsionadores desse comportamento. Segundo a Mintel, 77% dos consumidores norte-americanos de 25 a 34 anos e 70% dos canadenses nessa faixa etária afirmam gostar de produtos que remetem ao passado. Entre consumidores de 35 a 44 anos, os índices continuam elevados: 71% nos EUA e 67% no Canadá.
“Os millennials equilibram nostalgia e novidade, abraçando sabores globais, releituras modernas de clássicos e perfis ousados que ainda parecem reconhecíveis”, disse a Innova.
Pet food menos processado ganha força com tutores
Segundo o Pet Food Industry, no pet food, essa tendência pode se manifestar na busca por alimentos menos processados, receitas inspiradas em métodos tradicionais, ingredientes simples e reconhecíveis ou até narrativas que conectem o produto ao lar, às memórias e ao cuidado familiar. Embora o setor já tenha experimentado algo semelhante com as antigas “dietas ancestrais”, o novo movimento é mais emocional do que técnico, buscando oferecer segurança, familiaridade e autenticidade em tempos de incerteza.
Ainda que ninguém defenda o retorno a práticas passadas como alimentar cães e gatos com sobras de mesa, cresce o interesse por produtos que pareçam mais naturais e próximos do que as famílias reconhecem como “comida de verdade”, mas com segurança e nutrição adequadas.
Nesse contexto, marcas de pet food e produtos veterinários precisarão rever portfólios, repensar posicionamentos e encontrar maneiras de entregar valor tangível sem ignorar o lado emocional do consumo.