Cachorro caramelo, o vira-lata que conquistou o coração de brasileiros

Unanimidade nacional, o cachorro caramelo é hoje xodó de grande parte dos lares brasileiros. Vistos em abundância também pelas ruas, tornou-se até alvo de campanhas virtuais. Por ocasião do lançamento da nota de R$ 200, em 2020, memes nas redes sociais sugeriam trocar a imagem do lobo-guará, que estampa a cédula, pela do cachorro caramelo.
A iniciativa não foi bem-sucedida, mas estimulou a adoção do popular vira-lata que é encontrado em todas as regiões do país e ganhou ainda mais notoriedade. Pesquisa do Instituto Qualibest apontava que, já em 2017, respondia por 41% de todos os pets de estimação no país. Oficialmente chamado de cão sem raça definida (SRD), saber sua origem com precisão é como tirar leite de pedra.
Sem raça definida, cachorro caramelo descende de lobo selvagem
Resultado de múltiplos e aleatórios cruzamentos de diversas raças, sem interferência humana, o mais provável é que ele seja descendente de lobos selvagens, predominantemente pretos. Ao longo dos séculos, a domesticação dos mais tranquilos para convívio com humanos determinou a mudança de comportamento. Deveriam ser mais tolerantes a estresse, sem o impulso de fugir, hábito comum entre espécies selvagens.
Ao mesmo tempo, houve alteração na coloração da pelagem aparecendo cachorros malhados, fora dos padrões dos animais selvagens. Segundo o biólogo Átila Iamarino, esse fenômeno parece ter relação entre a formação do sistema nervoso e as células que influenciam nas cores do pelo.
Além disso, através de gerações, a diversidade de cores e pelos se multiplicou à medida que passaram a ser criados por pessoas em todo o mundo. A reprodução não deu destaque à preservação da pureza de uma única raça. Os traços são imprevisíveis e a aparência de um SRD muda de acordo com cada país.
Genética multirracial
Por aqui, um estudo do projeto Muttmix, de 2018, mostrou fotos de 31 cães sem raça definida a leigos e especialistas. Cada um deles indicou as possíveis raças presentes nos genes dos animais. Após testes genéticos feitos por pesquisadores para descobrir a resposta, apenas 25% dos voluntários conseguiram apontar raças com alguma exatidão.
No caso de nosso cachorro caramelo, a falta de pedigree não o torna menos amado. De porte médio, apresenta pelagem marrom clara ou caramelo, focinho preto e mais achatado, cabeça mais arredondada, pelo e rabo curtos.
A personalidade depende de sua história de vida. O temperamento pode ser amável se ele foi adotado logo ao nascer. Mas se viveu muito tempo na rua, teve que lutar pela sobrevivência ou sofreu maus-tratos pode se mostrar medroso, desconfiado ou agressivo. Essas reações tendem a ser observadas nos cães adotados em idade adulta.
Saúde resistente
O comportamento não padronizado, inclusive, é motivo para o tutor buscar treinamento de obediência e socialização para o pet. Muito esperto e brincalhão, aprende facilmente a se comportar e devota lealdade a seu dono. Acostumado a viver “perigosamente” nas ruas, sujeito a frio, fome e, sobretudo, enfermidades, o vira-lata tem menos chance de contrair doenças. A genética mais diversificada elevou sua imunidade e a expectativa de vida chega a até 20 anos.
Essa resistência, contudo, não prescinde de cuidados com a saúde. Como qualquer cão, independente da raça, é necessário um check-up anual para avaliar sua condição clínica. A vermifugação e as vacinas têm que estar em dia. E a administração de antipulgas e anticarrapaticida é fundamental para o bem-estar dele, assim como uma alimentação saudável e exercícios regulares.
Graças a internet, os vira-latas hoje não são mais tão ignorados. Há algum tempo, eram poucas as pessoas que se dispunham a levá-los para casa em feiras de adoção. Mas agora ganharam tanta visibilidade que facilitou o trabalho de ONGs e entidades protetoras em busca de lares para esses animais. E não cessam movimentos para que o cachorro caramelo seja elevado à condição de símbolo nacional.