Planos de saúde pet acendem alerta sobre sustentabilidade
Associação projeta consolidação do mercado e defende regulamentação responsável


O mercado de planos de saúde pet segue em forte expansão no Brasil. Criada em 2024, a Associação Brasileira de Planos de Saúde Pet (ABPSP) reúne atualmente cinco das principais empresas do segmento e já contabiliza mais de 25 operadoras ativas em todo o país. A entidade estima que existam entre 800 mil e 1 milhão de planos ativos, número que deve crescer rapidamente nos próximos anos.
Segundo o vice-presidente da entidade, Luiz Gênova, o potencial é imenso. “Hoje, a penetração é de apenas 1% do universo de cerca de 100 milhões de cães e gatos existentes no Brasil. Nos próximos anos, o número de pets cobertos pode chegar a 5 milhões”, explica. A ABPSP congrega 20 mil médicos veterinários que atendem 700 mil pets, com 200 mil procedimentos por mês.
Consolidação e sustentabilidade
O executivo acredita que o setor passará por um processo de consolidação natural, com a permanência das companhias que comprovem ter capacidade financeira, estrutura operacional eexperiência de gestão. “É normal que um mercado com grande potencial atraia novas empresas e que depois ocorra uma consolidação”, afirma
Ele rebate críticas sobre a sustentabilidade dos planos mais acessíveis. “O equilíbrio financeiro não está no preço, mas na gestão. É possível oferecer planos mais acessíveis com coberturas adequadas. O que sustenta uma operadora é a competência técnica e não o valor da mensalidade”, ressalta.
O avanço do setor reacende a discussão sobre a regulamentação dos planos pet. Segundo Gênova, a ABPSP acredita que haverá a hora oportuna para tratar esse tema, de forma responsável e com participação de todos – planos de saúde, setor veterinário e poder público.
Opinião idêntica tem Fabiano Granville, fundador da plataforma EloVetNet, que conecta executivos, investidores, empreendedores, veterinários, gestores e pesquisadores do setor. Ele considera que o desafio é regulamentar o mercado, a exemplo do que viabilizou a ANS no segmento de saúde suplementar. “A medida traria regras claras sobre cobertura, carências, reajustes e garantias de atendimento”, afirma.
Empresas do setor iniciam operação com cash burn
Granville avalia que, das dezenas de novas operadoras que surgiram nos últimos anos, nem todas mantêm estrutura financeira sólida. Planos com mensalidades baixas são considerados insustentáveis. Essas empresas, segundo ele, muitas vezes operam com cash burn, queimando caixa. “É uma equação em que todos saem perdendo. O tutor não pode ter a cobertura esperada e o veterinário que atende pelo plano convive com margens apertadas”, contextualiza.
Outro problema apontado pelo executivo é o impacto sobre o trabalho dos profissionais veterinários. Muitos aderem às redes credenciadas por necessidade e não por escolha. “A clínica que atende apenas pacientes particulares tem cada vez menos movimento. O custo fixo é alto. Para manter as portas abertas, o veterinário acaba entrando em um plano de saúde”, diz.
A pressão por volume de atendimentos, para Granville, é outro fator que tem levado a uma redução no tempo das consultas e, consequentemente, na qualidade do cuidado oferecido. “Para compensar o valor recebido, o veterinário precisa atender muitos animais por dia. Isso compromete o atendimento e o acompanhamento psicológico do pet”, alerta. Para ele, no atual momento, é preciso dar segurança jurídica para tutores, empresas e profissionais. “Regularizar o setor é o único caminho para que todos ganhem e para que o serviço continue crescendo de forma sustentável”, conclui o especialista.