Petlove aciona novamente o Cade contra Petz e Cobasi
Varejista recomenda ao órgão que fusão seja condicionada à venda de 105 lojas das duas redes
A fusão entre Petz e Cobasi sofre um novo revés. A Petlove decidiu elevar o tom e submeteu ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) uma petição formal impondo mais uma condição para aprovar a transação. De acordo com o Valor Econômico, a rede recomendou a venda de 105 das 162 lojas dos dois grupos no estado de São Paulo.
Essas unidades movimentam em torno de R$ 1,4 bilhão em vendas, o equivalente a 37% do faturamento da Petz e Cobasi no mercado paulista. Na visão de especialistas que acompanham as negociações de perto, esse pedido inviabilizaria a fusão. Juntas, as duas varejistas somam 508 pontos de venda em território nacional.
O documento vem acompanhado de um parecer técnico assinado por Carlos Ragazzo, ex-superintendente e ex-conselheiro do próprio Cade, figura reconhecida no meio jurídico e econômico pela atuação em casos de alta complexidade concorrencial.
O recado é claro. A Petlove teme que a operação dê origem a um player com poder excessivo, capaz de distorcer preços, monopolizar acesso a tutores e influenciar de forma desproporcional a dinâmica competitiva entre varejistas, distribuidores, fabricantes e serviços veterinários. O risco não seria apenas econômico, mas também estrutural.
Segundo fontes do mercado, o parecer solicita que, se a fusão for aprovada, ela não passe sem remédios robustos, como a venda de negócios, plataformas ou ativos capazes de reduzir o poder de mercado da nova companhia.
O que está em jogo?
Nos últimos cinco anos, o mercado pet evoluiu para um formato híbrido, que combina varejo físico, digital, marketplace, serviços de assinatura, planos de saúde animal e, cada vez mais, inteligência de dados sobre consumo. Nesse cenário, controlar uma grande fatia do tráfego de tutores significa muito mais do que vender ração e medicamentos. Significa dominar o ecossistema.
A Petlove argumenta que a fusão pode produzir exatamente esse efeito, ao dar vida a um superagente com escala e poder de barganha dificilmente acompanháveis por empresas médias ou independentes. Isso pode alterar a forma como marcas negociam preços, como distribuidores estruturam sua operação e até como clínicas e hospitais veterinários se posicionam em plataformas ou programas de fidelidade.
CEO vê fusão nociva para o setor
Em agosto, uma entrevista exclusiva ao Panorama Pet&Vet revelou as impressões da CEO da Petlove, Talita Lacerda. A executiva foi enfática ao afirmar que a transação seria nociva para o setor, levando à formação de monopólio em 155 mercados no Brasil e concentração superior a 70% em outros 42. “O resultado disso é que os tutores só terão uma alternativa de consumo, sem liberdade de escolha”, declarar.
Segundo Talita, o cenário é propício para o aumento de preços, obrigando os tutores a retirar itens da cesta de compras, o que reduz tanto o cuidado com os pets como o poder econômico dos tutores brasileiros. Ela ressalta que, atualmente, a probabilidade de um pequeno pet shop quebrar cresce 35% quando uma loja da Petz ou da Cobasi é inaugurada na região. Com a união das duas companhias, esse impacto tende a se intensificar, inviabilizando a competição.
“Com esse novo player formado, há risco de adoção de práticas predatórias para eliminar a concorrência, além de barreiras à entrada de novos players, em busca do monopólio”, acrescenta.
Distribuidoras também questionam impactos da fusão
A Andipet, principal associação de distribuidores pet do país, também segue mobilizada contra a fusão entre a Petz e a Cobasi. Em comunicado enviado à imprensa, a entidade contesta um mercado concentrado que “coloca em risco a diversidade, os pequenos negócios e, principalmente, o bem-estar dos animais”.
O movimento Não ao Monopólio Pet foi lançado em julho pelo Instituto Caramelo. A organização não governamental sem fins lucrativos tem Marcio Waldman, fundador da Petlove, como conselheiro. Segundo a ONG, a junção das empresas resultará em uma “nova era de abandonos em massa de cães e gatos no Brasil”.
“Na Andipet, que hoje representa 64 empresas associadas em todo o Brasil, há um consenso contrário à fusão. A preocupação é legítima, pois a nova companhia pode comprometer a livre concorrência, concentrar poder de mercado e enfraquecer a diversidade de canais, afetando diretamente os pequenos e médios varejistas”, pontua Diego Dahas, presidente da associação.
Os próximos passos
A análise do Cade deve seguir com aprofundamento técnico, coleta de informações adicionais e eventuais solicitações de esclarecimento às partes envolvidas. A petição da Petlove, por sua vez, funciona como um contrapeso estratégico, ampliando o debate público.