Onde começa a segurança do paciente na veterinária?
Entenda os princípios éticos que devem reger a atividade
por Bruna Malagoli Martino em
e atualizado em
Há quem pense que uma clínica segura se define por seus equipamentos, protocolos ou pelo número de certificações. Mas segurança, antes de ser norma, é princípio. E antes de ser técnica, é ética.
O que chamamos de “segurança do paciente” na veterinária é, no fundo, um modo de reconhecer a vulnerabilidade do outro e de responder a ela com respeito, escuta e responsabilidade.
Em tempos acelerados, em que o cuidado corre o risco de virar produto, a clínica segura é um espaço de resistência. Cuidar não é apenas tratar, mas proteger.
Segurança do paciente na veterinária e o conceito de espaço ético
Inspirada nas ideias de Georges Canguilhem, que via o normal e o patológico como formas de viver em relação ao meio, podemos pensar a segurança do paciente na veterinária da mesma forma. É algo que se adapta, muda e nunca é totalmente previsível. O cuidado acontece no encontro e todo encontro carrega risco, incerteza e a necessidade de escuta.
A clínica segura, portanto, não é aquela que evita o risco a qualquer custo, mas aquela que o reconhece e o acolhe como parte da prática. A segurança nasce da atenção constante ao que é passível de erro e não da negação da falha. É nesse sentido que a clínica segura se torna ética, porque assume a responsabilidade pelo sucesso e também pelos equívocos.
Cuidar também é permitir que a verdade tenha espaço
Mais do que o erro em si, é o silêncio que o sucede o maior problema. Culturas que punem quem comenta sobre falhas criam clínicas perigosas, porque negam o aprendizado. Já aquelas que escutam, acolhem e transformam erros em lições criam espaços de confiança e melhoria real.
Em uma clínica segura, ninguém precisa fingir perfeição. A segurança nasce quando a equipe pode dizer “isso deu errado” e, mais ainda “isso pode ser melhor”.
O cuidado com quem cuida
A segurança do paciente na veterinária pressupõe ainda a proteção de quem cuida. Burnout, sobrecarga, pressa, ausência de escuta. Tudo isso são riscos que se tornam invisíveis justamente porque se tornam rotina. Mas uma equipe esgotada é terreno fértil para falhas.
A ética do cuidado exige tempo e disposição para o outro. Nada disso é possível em ambientes marcados pelo medo, pelo autoritarismo ou pela indiferença. Quando cuidamos da equipe, estamos cuidando, também, do paciente.
Clínica segura como projeto de mundo
Falar de segurança do paciente é, no fundo, falar de mundo. É falar sobre qual valor damos à vida, mesmo quando ela não pode nos responder com palavras. É falar sobre o modo como enxergamos a responsabilidade, a fragilidade e a confiança.
Por isso, clínicas seguras vão além de bem organizadas. São clínicas que pensam o cuidado. Que se perguntam constantemente: “Isso é justo?”, “isso é seguro?”, “isso é humano?”.
Por tudo isso, a clínica segura não se mede apenas pelos riscos que evita, mas pelo compromisso diário de proteger, aprender e melhorar. E é desse compromisso que resulta a consequência mais natural: riscos cada vez menores e vidas mais bem cuidadas.