Medicamentos para emagrecer avançam em pets
Estudos com implantes de GLP-1 em gatos indicam nova fronteira no tratamento da obesidade e do diabetes, mas especialistas pedem cautela
por Juliana de Caprio em
e atualizado em
Os medicamentos para emagrecimento que revolucionaram o tratamento da obesidade em humanos começam a abrir caminho também na medicina veterinária.
Nos Estados Unidos, estudos iniciais com fármacos análogos ao GLP-1 em gatos e cães apontam para uma possível virada no controle de peso e no manejo do diabetes em animais de companhia, dois problemas que atingem proporções alarmantes.
Implantes em estudo podem transformar o manejo clínico
A empresa de biotecnologia Okava Pharmaceuticals iniciou um estudo-piloto com um implante subcutâneo de exenatida, desenvolvido exclusivamente para gatos obesos. A tecnologia dispensaria as tradicionais injeções semanais.
Trata-se de uma cápsula minúscula, semelhante a um microchip, capaz de liberar a medicação por até seis meses. “Você implanta a cápsula e, seis meses depois, o gato perdeu peso. É quase mágico”, afirma Chen Gilor, veterinário da Universidade da Flórida e responsável pelo estudo. Os primeiros resultados devem ser divulgados no verão de 2025.
A proposta surge em um cenário preocupante. Cerca de 60% dos cães e gatos norte-americanos apresentam sobrepeso ou obesidade. Centenas de milhares convivem com diabetes, doença que demanda aplicações diárias de insulina.
A obesidade, por sua vez, evolui silenciosamente e responde pouco às estratégias tradicionais de dieta e exercícios. “Não conseguimos avançar como gostaríamos”, afirma o veterinário Ernie Ward, fundador da Associação para Prevenção da Obesidade Pet.
Potencial, desafios e dúvidas sobre adesão
Os medicamentos baseados em GLP-1 imitam um hormônio natural envolvido no controle do apetite e no metabolismo da glicose. Em humanos, eles se consolidaram como uma das ferramentas mais eficazes para perda de peso.
Em animais, estudos iniciais indicam efeitos semelhantes como redução da fome, melhora glicêmica e diminuição gradual do peso corporal. Ainda assim, efeitos colaterais como náuseas e vômitos também aparecem, tal como ocorre em pacientes humanos.
Mesmo sem versões veterinárias aprovadas, alguns profissionais utilizam medicamentos humanos de forma off-label, principalmente em gatos com diabetes. O problema está no custo, terapias podem ultrapassar centenas de dólares mensais, o que limita o acesso.
A Okava aposta em uma alternativa mais prática e barata. O estudo MEOW-1, que testará o implante em pelo menos 50 gatos, pode abrir caminho para a submissão do produto à FDA nos próximos dois anos. “Nosso entendimento é que a obesidade é o maior desafio preventivo da medicina veterinária hoje”, afirma Michael Klotsman, CEO da empresa.
A receptividade dos tutores, no entanto, ainda é uma incógnita. Em 2007, o medicamento Slentrol, aprovado para emagrecimento de cães, acabou descontinuado por baixa demanda. “Muitos tutores não viam a obesidade como doença, e se frustravam quando o animal perdia o apetite”, relembra a nutricionista veterinária Maryanne Murphy.
Para ela, os novos fármacos têm potencial, mas não substituem alimentação adequada, manejo comportamental e acompanhamento veterinário. “Não será uma solução rápida e isolada”, diz.
Se confirmados, os avanços podem transformar a abordagem clínica de uma enfermidade que já é considerada epidêmica no universo pet. Até lá, o desafio será equilibrar expectativa, acesso e responsabilidade no uso de uma tecnologia que está apenas começando a chegar ao consultório veterinário.