Distribuição pet enfrenta turbulência com consolidação e inadimplência
Avanço das megastores e atrasos de pagamento no pequeno varejo pautaram um ano ainda mais desafiador para a atividade
O ano de 2025 foi marcado por um ambiente desafiador para a distribuição no mercado pet brasileiro. Crescimento mais lento da indústria, avanço da consolidação do varejo, aumento da inadimplência e elevação das exigências impostas pela indústria pressionaram o atacado pet, que precisou rever estratégias para preservar margens, fluxo de caixa e relevância dentro da cadeia.
Segundo projeções da Abempet, o setor pet brasileiro deve anotar um crescimento de apenas 3,36% em 2025, alcançando cerca de R$ 77,9 bilhões em faturamento. Embora positivo, o resultado ficou abaixo das médias históricas e refletiu um ambiente macroeconômico mais restritivo, com inflação persistente, juros elevados e consumo mais cauteloso das famílias, fatores que impactaram diretamente o desempenho do varejo e, por consequência, da distribuição.
Eficiência passa a ditar sobrevivência da distribuição pet
O avanço modesto do mercado impôs uma realidade dura para os distribuidores. Custos logísticos elevados, necessidade de capital de giro e maior seletividade da indústria na escolha de parceiros passaram a compor o dia a dia do setor.
A distribuição passou a ser cobrada não apenas por volume, mas por qualidade de execução, gestão profissional, previsibilidade de vendas e inteligência comercial. Esse novo patamar de cobrança expôs fragilidades históricas do setor, especialmente entre distribuidores com estrutura enxuta, baixa digitalização e forte dependência de crédito ao varejo.
Consolidação do varejo redefine o papel do segmento
Outro vetor determinante de 2025 foi a consolidação do mercado pet, especialmente no varejo. O crescimento de grandes redes ampliou a desigualdade competitiva em relação aos pequenos e médios pet shops, que seguem representando a maior parte dos pontos de venda no país.
As grandes redes passaram a negociar diretamente com a indústria em condições diferenciadas, pressionando o modelo tradicional de distribuição. Já o varejo independente enfrentou dificuldades crescentes para acessar crédito, manter estoques e competir em preço, o que exigiu dos distribuidores maior esforço comercial, logístico e financeiro para sustentar essa base de clientes.
“Os pequenos lojistas estão cada vez mais pressionados. Compram ração e acessórios a preços mais altos no atacado, não conseguem repassar o preço ao consumidor e acabam sem margem para competir”, alerta Diego Dahas, presidente da Andipet.
Nesse contexto, equilibrar os interesses da indústria, a viabilidade do varejo e a própria sustentabilidade financeira tornou-se um desafio diário para a distribuição.
Inadimplência do varejo aumenta pressão
O aumento da inadimplência dos pet shops foi um dos temas mais críticos do ano. Em 2025, os atrasos nos pagamentos se intensificaram, pressionando o fluxo de caixa dos distribuidores e elevando o risco operacional do setor.
Em reportagem exclusiva, o Panorama Pet&Vet apontou que ao menos cinco distribuidoras encerraram suas atividades ao longo do ano, tendo a inadimplência como um dos principais fatores. “Quando consideramos os atrasos de pagamento até 30 dias, o percentual médio subiu de 1% para quase 3% nos últimos seis meses”, informou Dahas.
O descompasso entre prazos longos concedidos ao varejo e prazos mais curtos exigidos pela indústria tornou-se insustentável para parte do atacado, especialmente em um ambiente de crédito caro e restrito.
Esse cenário evidenciou a necessidade de políticas mais rigorosas de crédito, análise de risco e renegociação de prazos, além de maior transparência financeira ao longo da cadeia.
“Mesmo com a melhora de indicadores macroeconômicos, é natural que os inadimplentes sigam priorizando a reestruturação financeira em detrimento das compras. E quem já começou a quitar os débitos não quer partir para novas dívidas”, reforça Luiz Rabi, economista-chefe do Serasa Experian, destacando que a situação estimula a manutenção da lógica de consumo pelo menor preço.
Andipet alerta para desaceleração e pede racionalidade para 2026
A preocupação com os rumos do setor foi formalizada pela Andipet, que publicou uma carta aberta ao mercado em suas redes sociais, alertando para o segundo ano consecutivo de crescimento abaixo de dois dígitos. No documento, a entidade afirma que “esse dado, por si só, já sinaliza um cenário claro de freio no crescimento e desaquecimento do consumo, exigindo mais racionalidade, leitura de dados e alinhamento estratégico entre todos os elos da cadeia”.
A carta chama atenção para o elevado nível de estoques na distribuição no início de 2026, superior ao observado no começo de 2025, o que pressiona capital de giro, logística e custos operacionais. A Andipet também alerta que metas agressivas e desconectadas da realidade do mercado podem ampliar riscos e aprofundar o desalinhamento da cadeia.
Como resposta, a entidade defende diálogo técnico com a indústria e reforça que “planejar 2026 exige escuta ativa, leitura realista dos dados e construção de expectativas minimamente viáveis para a distribuição”. A entidade também anunciou o avanço de um projeto de inteligência de mercado, com base em dados reais da distribuição pet no Brasil, voltado a ampliar a transparência e apoiar decisões mais alinhadas à realidade operacional do setor.
Distribuidor deixa de ser operador logístico e assume função estratégica
A retrospectiva de 2025 revela um setor de distribuição tensionado, mas em transformação. O período deixou claro que o papel do distribuidor está mudando, deixando de ser um mero operador logístico para atuar como agente estratégico, capaz de gerar valor por meio de dados, gestão, relacionamento e suporte ao varejo.