Setor acende alerta para alta da inadimplência no mercado pet
Atraso de pagamentos nos pet shops compromete caixa, trava investimentos e aumenta o risco financeiro das distribuidoras


O aumento da inadimplência no mercado pet nos últimos dois anos vem acendendo o sinal de alerta no setor. Com margens estreitas e um ambiente concorrencial cada vez mais acirrados, pequenos e médios pet shops são os mais afetados por este cenário, gerando um efeito-dominó em toda a cadeia.
“Somos pressionados a alongar prazos com o varejo, mas não temos essa mesma flexibilidade junto à indústria. Isso compromete o caixa, trava investimentos e aumenta o risco financeiro, especialmente com os estoques altos”, afirma Diego Dahas, presidente da Associação Nacional dos Distribuidores de Produtos Pet (Andipet).
O executivo associa dificuldade dos pet shops para cumprir prazos de pagamentos ao aumento da Selic e ao encarecimento do crédito. “O varejo perdeu capacidade de investimento e capital de giro, o que naturalmente aumentou os atrasos”, avalia. Embora não haja números consolidados, o assunto vem sendo alvo de relatos recorrentes entre distribuidoras associadas, o que motivou a Andipet iniciar a organização de uma pesquisa nacional para levantar esse número com base real.
Distribuidores e varejo pet trabalham juntos para sair da crise
Para evitar que a inadimplência no mercado pet se agrave, Dahas informa que os distribuidores vêm desenvolvido estratégias junto aos varejistas, como a oferta de consultoria personalizada e suporte à análise de impacto das marcas para atração do cliente nas lojas. “Mais do que vender, é preciso apoiar a gestão. Em grande maioria são clientes com menor margem de manobra, acesso mais difícil a financiamentos e estrutura semiprofissional’, avalia.
Para o consultor de negócios do Sebrae-SP, Wagner Paludetto, as implicações da inadimplência vão além de uma relação abalada com os fornecedores, em que há risco de perda de crédito e interrupção de fornecimento. “Caindo a qualidade dos produtos, o cliente pode também se afastar. Junto a instituições financeiras, a empresa passa a ter dificuldade para renegociação, limites reduzidos e crédito mais caro”, cita.
Falta de gestão
CEO do Grupo Comarcas, integrado pela Pets Contábil, empresa que oferece soluções contábeis para o setor vet e pet, Marcus Cordeiro atribui a inadimplência à falta de gestão no varejo. “A ausência de informação e o desconhecimento técnico sobre tributação levam donos de pet shops a arcarem, por exemplo, com carga tributária 2,5 vezes superior à que eles deveriam pagar de fato. Sobrecarregados, o caminho passa a ser a busca de empréstimos ou atraso no pagamento de fornecedores, complicando mais a saúde financeira”, reforça.
Grande parte das empresas do varejo pet que busca a consultoria, segundo Cordeiro, reclama de dificuldades para pagar fornecedores. Ele cita como exemplo o case de um grupo, integrado por oito lojas de pet shops, que conseguiu sair do vermelho depois de estruturar a tributação, reduzindo em 40% a carga de impostos.
O grupo, segundo ele, conseguiu também recuperar, dentro da legalidade, R$ 1 milhão em tributos. Essas medidas permitiram ao pet shop readequar o fluxo de caixa e arcar com o pagamento de distribuidores.
Com base em estudo feito pelo Núcleo de Inteligência e Conhecimento do Sebrae do Paraná, o CEO do Grupo Comarcas afirma que os produtos pets no Brasil ainda têm carga de tributos equiparável aos itens supérfluos, como cigarros e bebidas alcoólicas, inibindo, assim, o desenvolvimento do setor pet de forma sustentável.
Ainda conforme a análise, a taxa de mortalidade do setor de 2022 até 2024 foi de 36,89%, com uma idade média das empresas encerradas de 1,7 anos. “Esses números refletem a dinâmica competitiva e os desafios enfrentados pelas empresas do setor. Apenas 2% desse mercado está nas mãos de grandes redes. Os outros 98% são pequenos e médios negócios espalhados pelo Brasil”, aponta o estudo.
Além de organizar a tributação, os donos de pet shops, na visão de Cordeiro, devem aprofundar os conhecimentos sobre gestão, em assuntos como precificação, mix de produtos, atendimento eficiente ao cliente e ampliação dos canais de vendas, a fim de aumentar a lucratividade, favorecendo, assim, o aumento do fluxo de caixa.
Dicas do Sebrae
Se o empresário não tem recurso financeiro, mas não quer se tornar inadimplente, Wagner Paludetto afirma que é possível manter o negócio girando com duas estratégias inteligentes e responsáveis.
Uma delas é a consignação de produtos, que consiste em firmar parcerias com fornecedores para deixar mercadorias no seu negócio e só cobrar após a venda. Outro recurso é apostar no dropshipping ou revenda sem estoque: “O empresário divulga os produtos e efetiva a venda, mas o fornecedor envia diretamente ao cliente”, finaliza.