Fusão da Petz e Cobasi é nociva para o setor, diz CEO da Petlove
Executiva alerta que união das empresas pode inviabilizar a sobrevivência de pequenos pet shops


“A fusão da Petz e Cobasi é o movimento mais nocivo para o setor”. A avaliação contundente partiu da CEO da Petlove, Talita Lacerda. Em entrevista ao Panorama PetVet, a executiva argumenta que a operação resultará na formação de monopólio em 155 mercados no Brasil e concentração superior a 70% em outros 42. “O resultado disso é que os tutores só terão uma alternativa de consumo, sem liberdade de escolha”, afirma.
Segundo Talita, o cenário é propício para o aumento de preços, obrigando os tutores a retirar itens da cesta de compras, o que reduz tanto o cuidado com os pets como o poder econômico dos tutores brasileiros. Ela ressalta que, atualmente, a probabilidade de um pequeno pet shop quebrar cresce 35% quando uma loja da Petz ou da Cobasi é inaugurada na região. Com a união das duas companhias, esse impacto tende a se intensificar, inviabilizando a competição.
“Com esse novo player formado, há risco de adoção de práticas predatórias para eliminar a concorrência, além de barreiras à entrada de novos players, em busca do monopólio”, acrescenta.
Questionada sobre o início da venda de planos de saúde para pets pela Petz, a partir desta segunda-feira (18), Talita reforçou que toda competição que traga benefícios para animais e seus tutores é positiva.
O primeiro e-commerce do Brasil voltado a planos para cães e gatos tem preços a partir de R$ 14,90 e conta com a parceria de mais de 7 mil médicos veterinários, atendendo 25 das 27 capitais. A ampliação da atuação no segmento de planos de saúde para animais de companhia da empresa de Sergio Zimerman tem como objetivo fidelizar clientes e expandir o uso de sua estrutura de serviços veterinários. A empresa projeta valores entre R$ 200 e R$ 300 por mês, dependendo do perfil do animal.
Fusão da Petz e Cobasi é tema de audiência pública
Na última terça-feira (12), Talita participou de audiência pública promovida pela Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara dos Deputados para debater os riscos da fusão. Entre as preocupações levantadas, estiveram a alta concentração de mercado, aumento de preços, falência de concorrentes e até o abandono animal. Para ela, o encontro “foi uma oportunidade de reunir diferentes vozes e discutir os rumos do segmento”.
Convocadas, Petz e Cobasi não compareceram à audiência, o que gerou críticas. A deputada Gisela Simona (União-MT) classificou a ausência como um desrespeito, ressaltando que aquele seria o momento adequado para as empresas se justificarem perante os consumidores.
“Nossa preocupação é com o evidente risco de aumento de preços para os clientes, seja em rações, medicamentos ou outros insumos. Existe ameaça de redução da concorrência, de acesso a produtos e serviços, além do enfraquecimento do comércio local”, afirmou a parlamentar, que presidiu a sessão.
No início de junho, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) emitiu parecer favorável à fusão entre Cobasi e Petz. A autarquia avaliou que não haveria riscos concorrenciais e aprovou a operação sem restrições.
Na audiência, a presidente do Instituto de Pesquisas e Estudos da Sociedade e Consumo (IPS Consumo), Juliana Pereira, defendeu que o Cade estabeleça critérios objetivos de remédios para mitigar os efeitos da união. “Não é uma operação qualquer, tem impactos fortes sobre empreendedores, consumidores, pets e profissionais que atuam na proteção animal. É imprescindível que a autoridade de concorrência encontre medidas estratégicas para evitar falta de competição, aumento de preços e sufocamento dos menores players”, pontuou.
O CEO da Cia da Terra, Guilherme Davis, reforçou que o próprio relatório do Cade aponta risco elevado de concentração. Ele demonstrou preocupação com o faturamento conjunto de Petz e Cobasi, estimado em R$ 7 bilhões, frente a um máximo de R$ 3,6 milhões de pet shops menores. Davis enfatizou que a Cia da Terra gera pouco mais de 100 empregos diretos e que muitas famílias dependem do negócio, já pressionado pela concorrência das gigantes.
“Conversei com diversos lojistas que têm receio de se posicionar contra a fusão. Estou aqui não apenas pela Cia da Terra, mas como voz de 20 a 30 mil pequenos empreendedores do setor”, disse. A rede está há mais de 30 anos no mercado e possui 13 lojas em Brasília (DF).
Também participaram do debate Vitor Hugo, diretor do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor da Senacon; Márcia Moro, presidente da Associação Brasileira de Procons (ProconsBrasil); Marília Martins, coordenadora do Instituto Caramelo; além de protetores de animais independentes.