Cade amplia investigação sobre fusão entre Petz e Cobasi
Autarquia aciona mais de 200 empresas do setor para avaliar possíveis impactos concorrenciais


O processo de fusão entre Petz e Cobasi acaba de ganhar mais um capítulo. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) ampliou o escopo da investigação sobre os impactos da operação. A autarquia enviou questionários a 218 empresas do setor, sendo 92 concorrentes e 125 fornecedores, com o objetivo de identificar riscos à livre concorrência, práticas abusivas e efeitos sobre preços e acesso a produtos.
Nos documentos, o Cade solicita informações sobre possíveis vantagens competitivas desproporcionais, além de barreiras de entrada e restrições de acesso a fornecedores enfrentadas por pequenos pet shops e clínicas veterinárias.
Entre as perguntas enviadas aos concorrentes, o órgão questiona se há “favorecimento das grandes redes em marketplaces”, se “a atuação de Petz e Cobasi impacta o tráfego e as vendas de pet shops menores nas plataformas digitais” e se “mudanças de preço feitas pelas gigantes afetam os valores praticados no varejo físico”.
Fusão entre Petz e Cobasi gera pressão sobre fornecedores
Já os fornecedores foram questionados sobre a existência de políticas de desconto exclusivas, contratos de exclusividade e incentivos comerciais que possam desestimular o fornecimento a micro e pequenos estabelecimentos.
O Cade solicitou ainda informações sobre diferenças na formação de preços por porte de comprador e barreiras logísticas ou contratuais que possam limitar a concorrência.
O processo, inicialmente aprovado sem ressalvas pela Superintendência-Geral do órgão antitruste, voltou à pauta após recurso da Petlove, principal concorrente das duas redes, que alega risco de concentração de mercado e pressão sobre fornecedores.
Segundo apuração preliminar, pelo menos sete fabricantes de rações e produtos veterinários relataram pressões comerciais, cláusulas abusivas e práticas consideradas predatórias já adotadas por Petz e Cobasi.
Além de fornecedores, associações de proteção animal também se manifestaram contra a operação. O Instituto Caramelo, patrocinado pela Petlove, lidera a campanha “Não ao Monopólio Pet”, que alerta para o risco de aumento de preços, fechamento de pet shops locais e crescimento nos casos de abandono de animais.
Audiência pública e posicionamento das empresas
Diante da repercussão, o Cade marcou uma audiência pública para sexta-feira, 17 de outubro, em Brasília, a fim de discutir os impactos concorrenciais da fusão. O encontro será presencial e reunirá representantes do setor, especialistas, fornecedores e entidades civis.
Em nota conjunta, Petz e Cobasi afirmaram que acompanham “com transparência todas as etapas do processo em análise pelo Cade”, destacando que o envio dos ofícios “faz parte do trâmite natural da investigação”.
“As empresas permanecem confiantes de que a análise técnica do Cade demonstrará que a fusão não representa qualquer preocupação concorrencial. Ao contrário, ampliará a eficiência do setor e trará benefícios concretos para tutores e pets, com melhores preços e maior variedade de produtos e serviços”, declararam as companhias.
Ainda segundo o comunicado, a empresa resultante da fusão teria menos de 10% de participação de mercado, considerado “altamente competitivo”, com presença de redes grandes, médias e pequenas, além de marketplaces, supermercados e atacarejos.
As redes também atribuíram parte das críticas à atuação da Petlove, que, de acordo com elas, “tem apresentado estudos com vieses e conclusões sem respaldo técnico” para questionar o negócio.
IPS Consumo prepara manifestação ao Cade contra fusão
O IPS Consumo (Instituto de Pesquisas e Estudos da Sociedade e Consumo) vai se manifestar contra a junção das empresas durante a audiência pública, informou reportagem da Folha de S. Paulo.
Segundo Juliana Pereira, presidente do IPS Consumo, o acordo entre as gigantes do setor pode levar a um monopólio de até 70% do mercado em alguns locais. Além disso, a entidade diz ver risco de aumento de 5% no valor de rações, medicamentos e outros insumos, além de fechamento de pet shops de bairro em regiões onde a Petz e a Cobasi estão presentes.
Com a audiência de outubro, o Cade aprofunda um dos casos mais complexos da história recente do setor pet brasileiro, que movimenta mais de R$ 75 bilhões por ano.