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Inflação no Brasil subiu 653% desde o Plano Real

São Paulo – Desde o lançamento do Plano Real, em julho de 1994, a inflação acumulada no País alcançou a marca de 653%, segundo levantamento do economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores, que considera a variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Com a corrosão do poder de compra provocado pela inflação ao longo desses 28 anos, a nota de R$ 100 compra hoje o mesmo que seria possível comprar com R$ 13,91 em 1994, descontada a inflação.

Ainda segundo o economista, ao fazer o cálculo inverso, os mesmos R$ 100, em julho de 2022, corresponderiam a cerca de R$ 748, em julho de 1994. No mesmo intervalo, o salário mínimo saiu de R$ 64,79 para os atuais R$ 1.212, uma alta de aproximadamente 1.770%.

“Por mais que a gente tenha observado uma escalada dos preços nos últimos 28 anos, de forma geral, o salário mínimo também cresceu nesse período. O problema é que nos últimos dois, três anos, o brasileiro vem perdendo poder de compra dos dois lados, com uma recomposição da renda insuficiente para compensar a alta dos preços de itens básicos, como alimentação e energia”, diz o economista da LCA.

Imaizumi acrescenta que o quadro atual tem levado a situações de compras de produtos de pior qualidade, principalmente por parte da população de menor poder aquisitivo.

Ele lembra ainda que, em um cenário de juros e inflação rodando em níveis elevados no País, e com uma atividade econômica com dificuldades para engatar, as pessoas com as contas em atraso têm alcançado patamares recordes.

Dados do Indicador Serasa Experian de Inadimplência do Consumidor mostram que o Brasil bateu o recorde com 66,6 milhões de inadimplentes em maio, o maior número desde o início da série histórica, em 2016.

Ainda segundo os dados da Serasa, na comparação com maio de 2021, houve um acréscimo de 4 milhões de nomes negativados.

Entre os principais fatores que mais têm contribuído para o quadro, está a persistente pressão inflacionária. Puxado por preços mais altos da alimentação fora de casa e dos planos de saúde, o índice oficial de inflação do país subiu 0,67% em junho.

Juros

Para combater a alta dos preços, o Banco Central (BC) tem promovido desde o início do ano passado uma série de aumentos na taxa básica de juros, a Selic, que saiu da mínima histórica de 2% ao ano para os atuais 13,25%.

O aumento do custo do dinheiro, por sua vez, traz uma pressão adicional para a renda das famílias, que têm de conviver ainda com uma taxa de desemprego próxima dos dois dígitos.

Economistas assinalam que, apesar das medidas que têm sido adotadas pelo governo na tentativa de reduzir a pressão inflacionária, com cortes nos preços dos combustíveis e da energia, a sua efetividade é somente de curto prazo, e com o risco de deixar um legado perverso a partir de 2023.

“Com as medidas eleitoreiras que temos visto, para cada crescimento a mais que se joga para este ano, está sendo tirado do ano que vem. E, para cada percentual de inflação que se tira neste ano, se joga para o ano que vem”, disse

o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sérgio Vale.

Segundo o economista da Serasa Experian, Luiz Rabi, apesar do aumento da inadimplência ser esperado, é possível melhorar a situação. “Os consumidores precisam continuar se organizando financeiramente e utilizando ferramentas disponíveis, como o saque do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), para tentar tirar o nome do vermelho”, ressalta. (Lucas Bombana/Folhapress)

Cenários interno e externo geram cautela

São Paulo – A combinação de uma pressão inflacionária persistente com a perspectiva de forte desaceleração das grandes economias globais, somada a um ambiente doméstico também incerto, faz com que agentes de mercado se mostrem bastante cautelosos com o desenvolvimento do quadro macroeconômico.

“Não tem motivo para ser otimista no curto prazo com a dinâmica econômica dos mais diversos países”, afirmou o economista-chefe da gestora de recursos Verde Asset Management, Daniel Leichsenring durante evento virtual promovido pela Icatu ontem.

No cenário local, Leichsenring disse que a proximidade das eleições e as sinalizações que têm sido transmitidas pelos dois principais candidatos na disputa não trazem qualquer alívio sob a ótica econômica.

O economista-chefe da Verde afirmou que as manobras na política fiscal, mais recentemente com a aprovação da proposta de emenda à Constituição (PEC) que amplia benefícios a três meses do pleito, é um ponto de preocupação no radar dos investidores.

Processo eleitoral

“O rompimento das instituições fiscais e eleitorais que a gente teve no último mês, e que já vem desde o ano passado, é um negócio extraordinário”, afirmou Leichsenring, que também fez menção ao encontro promovido na última segunda-feira pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) com embaixadores para “questionar de maneira preventiva o processo eleitoral.”

O cenário deixa o país em uma “situação em que as alternativas que se encontram aí são muito ruins, cada um com sua característica.”

O governo do PT, afirmou o economista, produziu a “maior catástrofe de crescimento e a maior recessão de que se tem notícia no Brasil desde que se começou a medir o PIB, em 1901.”

Ele disse ainda que o programa de campanha da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e as declarações que têm sido dadas pelo candidato petista, “são claramente uma volta para todos os pilares que resultaram na tragédia de crescimento”. “Do ponto de vista estritamente econômico, é uma volta ao passado de maneira importante que o País simplesmente não tem margem de manobra fiscal para aguentar”, avaliou.

Leichsenring disse também que, caso o governo do PT confirme o favoritismo apontado nas pesquisas de intenção de votos, e siga a política econômica que tem indicado até aqui, “muito provavelmente vai dar errado, com recessão, inflação mais alta, desemprego, queda da renda real.”

Economias globais ainda vão piorar, enquanto inflação seguirá pressionada Além dos desafios próprios do país, o economista-chefe da gestora assinalou que, no cenário internacional, a dinâmica econômica também não é das mais positivas.

Segundo ele, as grandes economias globais ainda não chegaram ao pior momento em termos do ritmo da atividade econômica, o que o especialista estima que deva acontecer na virada de 2022 para 2023, ao mesmo tempo em que os dados de inflação não começaram a mostrar claros sinais de arrefecimento.

“O mundo está passando hoje pelo que talvez seja o auge do processo de desestruturação das cadeias produtivas e pelo choque de custos e também com uma desorientação das cadeias de commodities”, afirmou Leichsenring.

Ele acrescentou que, no contexto global, atravessamos uma combinação “muito particular e perversa de vários países caminhando para uma desaceleração profunda e, em alguns casos, para uma trajetória de recessão, com um processo inflacionário muito alto e muito longe de se dizer que é coisa do passado”. (Lucas Bombana/Folhapress)

Fonte: Díario do Comércio

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